O amor anda no ar em Tóquio: um pedido de casamento animou a pista de atletismo dos Paralímpicos

Keula estava em Tóquio para correr nos Paralímpicos, mas não foi surpreendida por uma medalha — nem sequer com uma qualificação para as semifinais dos 200m. Antes, recebeu um anel e um pedido de casamento do guia que a apoia nas provas.

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A atleta e o guia estão juntos desde 2010 DR

Keula Semedo, de 32 anos, vai sair de Tóquio sem medalhas, depois de ter falhado os 100m assim como a qualificação para a semifinal dos 200m, ambas as competições da classe T11 (atletas cegos). No entanto, não sairá da capital nipónica de mãos a abanar: no final das provas de qualificação, esta quinta-feira, a atleta que representava Cabo Verde foi pedida em casamento pelo seu guia, Manuel Veiga. O momento, claro, tornou-se viral nas redes sociais. “Que os dois corram juntos pela vida fora”, escreveu a página oficial dos Paralímpicos, no Twitter.

No final da prova, Manuel reuniu todas as atletas e respectivos guias na pista, uma vez que, como referiu, tinha um pedido muito especial a fazer. Mas ninguém suspeitava de que se tratava. O guia colocou o joelho no chão, como manda a tradição, pegou na mão da noiva e fez a pergunta. Depois de 11 anos juntos, “já era altura de fazer o pedido”, explicou em declarações ao site oficial dos Jogos Paralímpicos. “Pensei que esta era a melhor ocasião e o melhor lugar para o fazer. Isto [uma pista de atletismo] é a segunda casa dela.”.

A resposta de Keula foi um inequívoco ‘sim’ e logo se multiplicaram os aplausos por todo o estádio. “Nem tenho palavras para explicar como me sinto”, confessou a atleta paralímpica, no rescaldo do grande momento. “Estes foram os meus primeiros Jogos Paralímpicos e, com a minha idade e velocidade, estava a pensar parar depois disto. Mas agora tenho motivação extra para continuar depois dos Jogos, sempre com ele ao meu lado”, garante.

Entre Cabo Verde e Lisboa

Apesar de morar actualmente em Lisboa, Keula Nidreia Pereira Semedo nasceu em Cabo Verde, na Praia, e foi lá que, em 2005 e incentivada por um professor de Educação Física, começou a praticar atletismo. Com 16 anos, participou pela primeira vez numa competição internacional em Angola, onde ganhou três medalhas. No início da década passada mudou-se para Lisboa e, apesar de ter deixado de treinar durante algum tempo, retomou as competições em 2012, ano em que recebeu uma medalha de Mérito Desportivo do Governo do seu país.

Keula é deficiente visual desde bebé, uma história que conta num vídeo partilhado no YouTube. A sua mãe só descobriu a deficiência depois de ter notado um atraso no desenvolvimento da filha em relação aos outros bebés da mesma idade, que já andavam. Na altura, a história da menina correu o país, na voz da sua mãe que procurou, sem sucesso, uma forma de a curar.

Mas a deficiência visual nunca foi impedimento para nada, assegura Keula. Em criança, frequentou a escola da Associação de Deficientes Visuais de Cabo Verde (ADEVIC), na ilha de Santiago, onde aprendeu braille. E garante que, em momento algum, se sentiu excluída na infância. “Fiz tudo o que uma criança normal podia fazer”, recorda. Hoje, além de praticar atletismo, é também técnica de fisioterapia. Na sua página de Instagram partilha, aliás, várias dicas para uma vida mais saudável.

Este é o segundo pedido de casamento que se torna viral, em Tóquio. A esgrimista argentina María Belén Pérez Maurice foi pedida em casamento pelo seu treinador e companheiro, Lucas Guillermo Saucedo, no final de Julho, nos Jogos Olímpicos. Quanto a Keula e a Manuel não se conhecem para já mais detalhes sobre o noivado e a atleta ainda não reagiu ao acontecimento na sua página de Instagram, onde tem perto de 7000 seguidores.

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