Sal Marisco & Co: há marisco à venda na lisboeta Avenida Guerra Junqueiro
Um casal achou que era boa ideia abrir uma loja de rua em Lisboa com mariscos frescos. Pensavam que a procura iria dirigir-se para as sapateiras, amêijoas, camarões e afins. Engano. Os clientes querem é ostras. Aos poucos, os hábitos mudam.
A Guerra Junqueiro já foi uma das mais importantes e mais caras ruas comerciais de Lisboa. Foi no tempo em que a Mexicana era uma instituição e os funcionários da casa pediam desculpa aos clientes por fecharem as portas às duas da manhã. Ainda assim, uma avenida que tem pastelarias com doçaria regional, uma mercearia fina, uma loja especialidade em mel, outra da Vista Alegre, e tudo isso com esplanadas decentes, dois quiosques de jornais - vejam só - , e zonas de jardins com árvores nos dois lados, bom, é seguramente uma rua com vida. Boa vida. E qual é a cereja em cima do bolo? A Sal Marisco & Co, loja que vende mariscos de todas as formas e feitios e que nasceu há um mês. A surpresa da loja de mariscos na Avenida Guerra Junqueiro é tal que há gente que passa e entra só para confirmar que leu bem o letreiro do espaço. Afinal de contas, lojas de rua de mariscos no país não são propriamente uma tradição.
E foi justamente por isso que Ricardo Diz (ex-bancário com 41 anos) e a mulher Joana Weber Ramos (arquitecta com 40 anos) entenderam que uma mariscaria com produtos de qualidade, numa área com uma classe média alta e alta, faria sentido. Só pelo arrojo da ideia merecem aplausos.
Claro que a paixão de Ricardo Diz por mariscos facilitou a definição do negócio, mas o projecto implicou estudo, selecção de fornecedores e muitas horas com amigos da restauração na aprendizagem da cozedura dos mariscos. “Hoje tenho os tempos de confecção dominados, mas, de início, muitos amigos receberam mariscos porque eu tinha ultrapassado o ponto de cozedura”, salienta o responsável. “Algum teve mesmo que ir para o lixo.”
Um dos factores críticos do negócio é o controlo das quantidades que deve ter na loja face à procura. Como o projecto começou há um mês, Ricardo tudo faz para não ter de deitar para o lixo o marisco não consumido.
Embora seja prematuro perceber como evoluirá o negócio, o casal está satisfeito pelo facto de já terem clientes que “frequentam a loja duas a três vezes por semana”, sendo que as ostras de Aveiro – Ilha dos Puxadoiros – são o produto mais vendido. “Nós estávamos longe de imaginar isso. Pensávamos que íamos vender mais amêijoa (embora a amêijoa boa esteja escassa), sapateiras ou camarão, mas é a ostra que sai mais.”
É provável que para isso, preço à parte (15€ o quilo), contribua o serviço de abertura das ostras. Como poucos consumidores dominam o processo, Ricardo abre as ostras, fecha-as de novo e lá seguem para casa do cliente, com a recomendação do consumo imediato.
É claro que há sempre quem facilmente abra as ostras em casa e quem, inexperiente, não queira dar parte de fraco. “Há dias regressou à loja um cliente com parte das ostras por abrir. Disse-me que tinha destruído duas facas e mostrou-me o corte num dedo. Sorri, abri o resto das ostras e ele lá foi contente para casa.”.