China manda mensagem à Europa com corte comercial com a Lituânia

Pequim quer deixar clara a sua oposição a gestos em relação a Taiwan, mas alguns analistas dizem que a atitude chinesa pode virar-se contra o país.

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Comemorações do dia nacional de Taiwan em Outubro de 2020 RITCHIE B. TONGO/EPA

As autoridades chinesas deixaram de emitir novas autorizações de exportação para vários produtos lituanos, no que está a ser visto como uma punição comercial ao país com o objectivo de mandar uma mensagem à União Europeia.

As exportações actuais da Lituânia para a China continuavam a seguir, segundo o Baltic Times, mas, segundo as autoridades de alimentação e veterinária da Lituânia, já não estavam a ser concedidas novas licenças, sem que fosse dada qualquer explicação.

A China protestou há duas semanas com a retirada do seu embaixador em Vilnius pela abertura de uma representação diplomática de Taiwan e o fim não oficial do comércio parece semelhante ao que o país fez já com a Austrália e as suas exportações de carvão, vinho, e carne, lembra o Guardian.

Mas se na Austrália estas trocas têm um grande peso, no caso da Lituânia este é “negligenciável”, disse Noah Barkin, perito no grupo de investigação norte-americano Rhodium. Mas Pequim avançou, ainda assim, “para mandar uma mensagem a outros países que haverá consequências se ultrapassarem as suas linhas vermelhas em relação a Taiwan”, que a China considera ser seu território.

Isto acontece numa altura de maior discussão na União Europeia sobre como tratar a China, com preocupações pelos abusos de direitos humanos, em especial na região de Xinjiang, que levaram aliás o Parlamento Europeu a rejeitar um acordo comercial levou a impor sanções a quatro dirigentes políticos da província em Maio, no primeiro pacote de sanções ao abrigo de novo regime global para punir abusos e violações graves dos direitos humanos. Em resposta, Pequim impôs sanções aos eurodeputados que aprovaram este pacote, e o Parlamento Europeu rejeitou um acordo de investimento entre a União Europeia e a China, que acabou suspenso.

A União Europeia diz que a acção da Lituânia não ultrapassa nenhum limite da política europeia em relação à China. “Não vemos a abertura de um gabinete de representação em ou de Taiwan como uma quebra da política europeia” e do conceito de “uma China”, disse a porta-voz Nabila Massrali.

Steve Tsang, director do China Institute na SOAS (School of Oriental and African Studies), em Londres, diz que “o uso da coerção pela China na Lituânia deverá manchar a imagem da China e a sua posição na Europa e no mundo, e é ainda pouco provável que cumpra o seu objectivo, pelo menos em termos de levar a Lituânia a reverter a sua política em relação a Taiwan”, declarou ao Guardian. “A grande questão é até onde é que a União Europeia vai apoiar a Lituânia neste caso. Com alguns Estados membros a serem especialmente simpáticos para com a China, uma frente forte e unida pela União Europeia e apoiar a Lituânia não vai ser fácil de conseguir”, avisa.

Por outro lado, como notou Frank Juris, do Instituto de Política Externa da Estónia no Centro Internacional para Defesa e Segurança à RFE/RL, vários países europeus mais pequenos, como os Bálticos ou a Roménia, têm defendido uma mudança na relação com a China. “A Lituânia está na frente desta tendência,” declarou Juris. “A abordagem tradicional chinesa de escolher os Estados mais pequenos e pressioná-los está a provar ser contraproducente.”

A Lituânia tem-se aproximado não só de Taiwan como dos Estados Unidos, que têm uma relação de rivalidade crescente com a China, que consideram mesmo a maior ameaça à liberdade desde a II Guerra Mundial. Os EUA prometeram apoiar a Lituânia contra “as acções agressivas unilaterais e a pressão política da China”.

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