Eficácia das vacinas administradas no Queimódromo não foi afectada

Administração Regional de Saúde do Norte adianta que utentes vacinados no Queimódromo com as duas doses já podem requerer o seu certificado digital. Os restantes deverão aguardar convocatória por SMS para a segunda dose.

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A vacinação no Queimódromo foi suspensa depois de detectados os problemas na cadeia de frio Nelson Garrido (arquivo)

As falhas na cadeia de frio do centro de vacinação do Queimódromo, no Porto, não afectaram a qualidade das vacinas administradas, que “mantinham todas as condições de segurança e eficácia no momento da inoculação”, garante a Administração Regional de Saúde do Norte, “após as análises efectuadas pelos fabricantes”. Esta informação seria posteriormente confirmada, ainda esta terça-feira, pela Direcção-Geral da Saúde (DGS). Em comunicado, esta entidade confirma que as análises feitas pelo Infarmed indicam que não houve qualquer impacto na eficácia e qualidade destes fármacos.

“O Infarmed concluiu que, relativamente às vacinas inoculadas nestes dias, não se verificou impacto na qualidade, estando assegurados os parâmetros de segurança e eficácia exigíveis”, pode ler-se no comunicado da DGS. 

As pessoas que, no início da segunda semana de Agosto, receberam as doses retiradas dos dois lotes afectados pelos problemas na refrigeração que levaram à suspensão do funcionamento daquele centro de vacinação já podem assim requerer o respectivo certificado digital de vacinação, caso tenham tomado a vacina Janssen (dose única). No total, são 835 pessoas que receberam esta vacina e que podem agora aceder a este documento, adiantou a DGS. 

O certificado está já igualmente disponível para os utentes os utentes inoculados com a primeira dose da Comirnaty e que tiveram infecção prévia (casos em que ficam igualmente sujeitos a apenas uma dose). Já quem nunca esteve infectado e tomou a primeira dose da vacina fabricada pela Pfizer será agora convocado para a segunda dose. “O convite, por SMS, dirá o dia, hora e local”, esclarece a Administração Regional de Saúde (ARS) do Norte. Foram 40 os utentes que receberam a vacina da Pfizer e podem agora requerer o certificado digital. 

A conclusão pela eficácia das vacinas não significa, porém, que aquele centro de vacinação vá reabrir. Questionado, o vice-almirante Gouveia e Melo, coordenador da task force da vacinação, remeteu essa decisão para depois dos inquéritos que estão em curso e que visam apurar responsabilidades pela falha na cadeia de frio, adiantando, ainda assim, que a reabertura do centro “pode já não ser útil”, independentemente do resultado das investigações em curso. “Temos que ter a certeza de que, ao reabrir, as operações vão correr bem e, também, que aquilo tem utilidade, porque, nesta fase, começamos a estar no fim [da vacinação massiva] e podemos chegar à conclusão de que abrir uma estrutura daquelas no fim do processo pode já não ser útil”, declarou, em declarações prestadas no decurso de uma visita ao centro de vacinação de São João da Madeira, no distrito de Aveiro.

“Estes inquéritos obrigam a algum detalhe. Não pode ser ‘Vou lá, faço três perguntas e no dia seguinte tomo uma decisão’. Teve-se que verificar procedimentos, que verificar se esses procedimentos eram suficientemente robustos e, se não o eram, o que fazer para que se tornassem mais robustos. É também um processo de reaprendizagem”, justificou, asseverando que “não há nenhum entrave psicológico” a uma eventual retoma da actividade clínica do espaço.

No passado dia 17, recorde-se, a task force considerara que tal falha (o frigorifico em que estavam armazenadas as doses terá estado desligado durante algum tempo sem que tivesse sido accionado qualquer alarme) foi comunicada tardiamente à ARS do Norte e, através desta, ao grupo de trabalho coordenado por Gouveia e Melo.

As investigações ainda em curso visam agora perceber os motivos que levaram à quebra na cadeia de frio, por um lado, e por que é que tal falha não foi imediatamente detectada, levando a que as vacinas tivessem sido administradas, ainda que “fora dos parâmetros normais de temperatura estabelecidos”. As regras obrigam a que, antes de iniciada a inoculação, se verifique se as vacinas estiveram sempre armazenadas à temperatura adequada nos dispositivos existentes para o efeito.

Suspenso desde o passado dia 12 — as falhas terão ocorrido entre os dias 9 e 10 de Agosto —, o centro de vacinação do Queimódromo foi, durante cerca de um mês, o único centro do país operado por um privado (a rede de laboratórios Unilabs) e funcionava em sistema drive thru, no âmbito de uma parceira entre a Câmara do Porto, os dois centros hospitalares da cidade e a rede de laboratórios, responsável pela infra-estrutura, pessoal médico, de enfermagem e administrativo, e pelos respectivos custos de funcionamento.

Como o PÚBLICO noticiou, a Unilabs argumenta que a falha foi detectada ao início da tarde do dia 10 e reportada na mesma altura às autoridades, tendo os lotes afectados sido postos imediatamente em quarentena. E asseverou ainda que as vacinas administradas durante mais um dia e meio até ser ordenada a suspensão do centro eram de novos lotes que o Agrupamento de Centros de Saúde do Porto Ocidental fizera entretanto chegar àquelas instalações.

Apesar de não serem ainda conhecidas quaisquer conclusões dos inquéritos em curso — por parte da Inspecção-Geral das Actividades de Saúde e da Polícia Judiciária, além do próprio inquérito interno da ARS do Norte —, o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, veio, no passado dia 17, defender a reabertura daquele centro de vacinação, que considerou “urgente e necessária, numa altura em que decorre o processo de vacinação dos menores, cuja inoculação tem de ser acompanhada por um adulto.

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