Empresários pensavam estar a comprar candidatos autárquicos, mas estavam a pagar a burlão
Judiciária desmontou esquema que envolvia financiamento de políticos em troca de alegadas adjudicações de obras financiadas com dinheiros da bazuca europeia.
Vários empresários foram enganados por um burlão a quem pagaram para obterem favores de candidatos autárquicos. O esquema foi desmontado pela Polícia Judiciária após a denúncia de um dos candidatos, que descobriu que o seu nome estava a ser usado na burla.
“Aproveitando a proximidade das eleições autárquicas, assim como o previsível lançamento de programas para a recuperação económica, o suspeito terá estabelecido contactos ao nível empresarial autointitulando-se titular de cargo político com capacidade de decisão em matéria de contratação pública”, explica a PJ em comunicado. Pedia às empresas que financiassem a campanha de determinado candidato. Se ele ganhasse as eleições, adjudicar-lhes-ia depois esta ou aquela obra financiada com dinheiros da chamada bazuca europeia.
Houve empresários a quem foram pedidos apenas seis mil euros, enquanto noutros casos esse montante subiu até aos 25 mil. Apesar de terem sido vítimas deste esquema, todos os que pagaram arriscam-se agora a serem também incriminados juntamente com o burlão, que tem 56 anos, é também empresário de profissão e um velho conhecido das autoridades por suspeitas da prática de outras fraudes. Além de ser empresário, há alguns anos chegou a integrar o executivo de uma junta de freguesia do centro do país.
Neste caso, rodeava-se das maiores cautelas quando se tratava de receber o dinheiro, recorrendo a empresas de transporte urgente que recolhiam os montantes angariados nas recepções dos hotéis que indicava previamente às vítimas do estratagema. “A detenção ocorreu na sequência de um recebimento de dez mil euros. Estima-se que o valor global recebido ultrapasse a centena de milhar de euros, proveniente de várias empresas”, adianta a Polícia Judiciária, que explica ainda que o indivíduo em causa se encontra em situação de insolvência, aguardando julgamento por suspeita de outros crimes de natureza patrimonial.
Apesar de residir na zona centro estendia as suas actividades a todo o país. Num dos casos recebeu dinheiro de um empresário da Beira Alta em troca da alegada adjudicação de um projecto na Grande Lisboa.
Depois de detido e submetido a interrogatório judicial na comarca judicial de Aveiro foi mandado aguardar julgamento em liberdade, mas com apresentações diárias no posto de polícia e proibição de se ausentar do concelho de residência, bem como de contactar os restantes envolvidos no processo.