Taliban conquistam mais capitais de província depois de Kandahar

A mais recente cidade tomada fica apenas 50 km de Cabul. EUA, Reino Unido e Canadá preparam operação para retirar pessoal da capital. Senador republicano diz que EUA arriscam episódio como o da retirada de Saigão em 1975.

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Taliban na principal praça de Kandahar, a sua mais importante conquista até agora EPA

O avanço dos taliban no Afeganistão continua com o dia de sexta-feira a ser marcado pela conquista de mais capitais de província, incluindo Pul-e-Alam, a capital da província de Logar, situada a apenas 50 km a sul da capital do Afeganistão. Com isto, os “estudantes de teologia” controlam já quase metade das 34 capitais de província do país, num avanço feito em apenas oito dias.

A maior perda para o Governo foi a da cidade de Kandahar, que foi o seu berço e antiga capital, seguida de Herat e de Lashkar Gah. Também Qala-e-Naw caiu nas mãos do movimento fundamentalista. Além de um símbolo importante para os taliban, Kandahar é um dos pontos mais importantes para trocas comerciais no país. A cidade de 600 mil habitantes tem um aeroporto internacional e uma produção importante tanto de indústria como de agricultura, lembra a BBC.

Cerca de 250.000 pessoas foram deslocadas pelo conflito desde o final de Maio – 400.000 desde o início do ano, segundo as Nações Unidas.​Há muitas pessoas em fuga dos taliban em Cabul, a dormir na rua ou onde encontrem abrigo, por exemplo em armazéns abandonados. “Não temos dinheiro para comprar pão, ou medicamentos para as crianças”, disse à BBC uma mulher que fugiu com a família de Kunduz depois de os taliban terem incendiado a sua casa.

A organização Save The Children, com base no Reino Unido, estima que 72 mil crianças tenham fugido para a capital e diz que a maioria está a dormir na rua.

Muitos afegãos estão incrédulos com a rapidez do avanço dos taliban, comenta a jornalista da BBC Yogita Limaye, que está em Cabul. O silêncio das mais altas figuras do Governo, acrescentou, está a levar a especulação sobre o que possa acontecer.

Esta semana, os EUA admitiam que os taliban pudessem conquistar Cabul dentro de 90 dias.

Os EUA estão a preparar o envio de 3000 militares para Cabul para tirar dali um “número significativo” do seu pessoal, o Reino Unido vai levar a cabo uma operação semelhante, enviando 600 militares, e o Canadá anunciou o envio de forças especiais para retirar o seu pessoal da embaixada, que vai depois encerrar.

O Canadá anunciou no mês passado um programa para retirar também afegãos que tenham sido importantes na missão das suas forças armadas, que fizeram tarefas de tradução, condução, cozinha, limpeza, e dos seus familiares. A Dinamarca anunciou que iria retirar 45 afegãos que trabalharam com o seu governo no país. Os Estados Unidos começaram também a retirar pessoal que participou na missão, mas apenas foram levados para os EUA 2500 afegãos, faltando ainda 20 mil antigos empregados e, com as famílias, somam um total de 53 mil pessoas.

“Poderemos voltar”, diz ministro britânico

Nos Estados Unidos, o senador republicano Mitch McConnell avisou que a retirada norte-americana do Afeganistão pode vir a ser um episódio humilhante como a de Saigão, no Vietname, em 1975. Uma imagem dessa altura, que mostrava uma fila de pessoas no cimo do edifício da embaixada americana para serem retiradas por um helicóptero, e que marcou a retirada no final da guerra, foi partilhada repetidamente nas redes sociais assim que os EUA anunciaram na quinta-feira o envio de forças para retirar o seu pessoal.

A decisão de retirar as forças americanas do Afeganistão foi tomada pelo anterior Presidente, Donald Trump. O Presidente, Joe Biden, anunciou depois que esta seria completada no máximo até ao dia 11 de Setembro de 2021, quando se assinalam 20 anos sobre os atentados em Nova Iorque e Washington, da autoria da Al-Qaeda, e que levaram à invasão norte-americana do Afeganistão pelos EUA e seus aliados.

O Reino Unido avisou entretanto que o Afeganistão está a resvalar para se tornar um Estado falhado, onde há o perigo de grupos como a Al-Qaeda terem condições para se desenvolver e, daí, pôr os países ocidentais em perigo, disse o ministro da Defesa do Reino Unido, Bem Wallace, à Sky News. “A Al-Qaeda vai provavelmente voltar.” E nesse caso, “se os taliban começarem a abrigar a Al-Qaeda, a atacar o ocidente, nós poderemos voltar”, declarou.

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