Em tudo havia medo
Hugo Gonçalves consegue a proeza de conjurar, com a sua escrita, um Portugal “amordaçado” . O seu livro é mais do que um roman noir.
Lisboa, Verão de 1940. O detective Paixão Leal é chamado para deslindar um caso de homicídio. O cadáver de uma jovem mulher é encontrado no Santuário do Cabo Espichel. Trata-se de um crime de contornos bizarros. O corpo está cuidadosamente enrolado num manto branco, um rosário entre os dedos. O clima de medo e de histeria, nesses anos dramáticos e instáveis da II Grande Guerra, dá azo a conjecturas dementes e a interpretações místicas. O ambiente em Portugal, especialmente em Lisboa, pejada de refugiados e a braços com violentas disputas de poder, não pode ser mais tenso. O simbolismo do corpo morto é poderoso. Tal como aconteceu nas aparições em Fátima, durante a I Grande Guerra, a alegoria à Virgem Maria parece óbvia e é extremamente conveniente, em termos de propaganda. O móbil, aparentemente de carácter religioso, à medida que a perseguição aos judeus se intensifica, serve perfeitamente para inflamar ainda mais os ânimos. Paixão Leal, um homem endurecido e calejado pelo ofício, não se deixa enganar e a caça ao assassino começa.
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