“Dança quem está na roda”, diz Marcelo sobre Bolsonaro

Presidente da República reinaugurou o Museu da Língua Portuguesa, que agraciou com a nova medalha Camões, mas o seu homólogo trocou a cerimónia por uma concentração motard.

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Marcelo Rebelo de Sousa entre Michel Temer e Fernando Henrique Cardoso, na cerimónia no Museu da Língua Portuguesa. EPA/ANTONIO COTRIM

Parece ser uma expressão que agrada a Marcelo Rebelo de Sousa quando pretende desvalorizar alguma situação: tal como noutras ocasiões (uma delas também no Brasil, quando o ex-Presidente Michel Temer não participou nas comemorações do Dia de Portugal de 2017, em São Paulo), o chefe de Estado português recorreu neste sábado ao dito popular “dança quem está na roda” para responder sobre a ausência do seu homólogo Jair Bolsonaro na cerimónia de reabertura do Museu da Língua Portuguesa de São Paulo.

Na conferência de imprensa que se seguiu à inauguração, o governador de São Paulo, João Dória, esclareceu que convidara o Presidente brasileiro para estar presente, mas este “preferiu ir andar de moto”, juntando-se a uma concentração de motociclistas no município Presidente Prudente, também no Estado de São Paulo. Dória, do PSD Brasileiro, é uma das vozes mais críticas de Jair Bolsonaro, apesar de ambos militarem à direita, é um putativo candidato ao Palácio do Planalto e neste mesmo dia ouviu Fernando Henrique Cardoso, um ex-Presidente, declarar que terá o seu voto.

Quando questionado pelos jornalistas sobre a ausência do seu homólogo brasileiro, Marcelo Rebelo de Sousa procurou desdramatizar o assunto. “Só respondo por Portugal. Gosto muito do que se diz no Minho que é: ‘Dança quem está na roda’. Eu estou nesta roda, estou muito feliz por estar nesta roda e nesta dança. Esta é uma dança que pensa no futuro da língua portuguesa e de 260 milhões de pessoas. Isso para mim é o mais importante”, afirmou.

Durante a cerimónia de reinauguração do museu, que ficou parcialmente destruído depois do incêndio de 2015, o governador João Dória agradeceu o apoio “à memória e cultura portuguesa” de Marcelo Rebelo de Sousa. Dória destacou a “biografia em defesa da liberdade e da democracia” dos ex-Presidentes Michel Temer e Fernando Henrique Cardoso, que ladeavam Marcelo na plateia. Também convidados, Lula da Silva (com quem Marcelo jantara na véspera) e Dilma Rousseff declinaram o convite, mas enviaram mensagens de apoio. A presença do também ex-presidente Sarney, que chegou a estar anunciada, não se concretizou. Quem também compareceu foi o Presidente de Cabo Verde, Jorge Fonseca. 

Durante a conferência de imprensa em que, segundo as palavras de João Dória, o Presidente português teve de responder a duas perguntas consideradas na gíria brasileira como “saia justa”, Marcelo rejeitou a ideia de uma alegada “guerra” entre os dois países motivada pela recusa de alguns escritores portugueses em usar o acordo ortográfico.

“Não há nenhuma guerra entre Portugal e Brasil. Simplesmente, em Portugal há democracia e é livre a opinião sobre o acordo, e é livre adoptar ou não o acordo”, disse, lembrando que este não é um caso único e que há países como Angola que não ratificaram o protocolo sobre a escrita da língua portuguesa. Para o chefe de Estado português, é também nesta pluralidade “que reside a riqueza” da comunidade lusófona. “A nossa língua é feita de democracia no falar e no escrever”, sublinhou.

Para Marcelo Rebelo de Sousa, “se há 100 milhões que são falantes e escrevem português de uma forma, provavelmente serão mais portadores de futuro do que 10 milhões”, disse, numa alusão às populações do Brasil e de Portugal.

Ao museu, Marcelo atribuiu, em estreia, a medalha Camões, a mais recente ordem honorífica portuguesa para galardoar serviços relevantes “à cultura portuguesa, à sua projecção no mundo, à conservação dos laços dos emigrantes com a mãe-pátria, à promoção da língua portuguesa e à intensificação das relações culturais entre os povos e as comunidades que se exprimam em português”. Uma condecoração atribuída “em nome do futuro” da língua portuguesa, para o qual “os mais jovens e mais numerosos” são “mais essenciais”, afirmou o Presidente da República numa alusão ao número de falantes brasileiros, que apenas em São Paulo são mais de 12 milhões.

“É esse futuro que, em nome de Portugal e de todos os portugueses, celebro, agraciando o Museu da Língua Portuguesa com uma ordem honorífica acabada de criar”, disse Marcelo Rebelo de Sousa, acrescentando: “Este museu será o primeiro dos primeiros galardoados. Este museu, que o mesmo é dizer este São Paulo, este Brasil e esta língua portuguesa que nos une por todo o mundo.”

A cerimónia de reinauguração do Museu da Língua Portuguesa marca o segundo dia da visita oficial de Marcelo Rebelo de Sousa ao Brasil, que tem agendado ainda para este sábado um encontro com representantes da comunidade portuguesa na Casa de Portugal, em São Paulo.