Liverpool deixa de ser Património Mundial da UNESCO
UNESCO decidiu retirar a classificação de Património Mundial à cidade britânica, alegando que os planos urbanísticos para a frente marítima prejudicam o legado vitoriano das docas da cidade. É o terceiro caso em meio século.
A cidade de Liverpool foi removida da lista classificada como Património Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO, na sigla em inglês), esta quarta-feira.
Através de voto secreto, com 13 a favor, cinco contra e dois votos invalidados, o comité da organização, reunido em Fuzhou, na China, decidiu que os planos urbanísticos para a frente marítima de Liverpool, incluindo o novo estádio de futebol do Everton FC (aprovado este ano, apesar das objecções dos órgãos de conservação do património), resultaram numa “séria deterioração” do património histórico da cidade e de uma “perda irreversível de atributos que transmitem o valor universal excepcional” do local.
Liverpool tinha sido classificada como Património Mundial pela UNESCO em 2004, em reconhecimento da beleza arquitectónica das suas docas vitorianas e do papel da cidade como um dos portos mais importantes do mundo nos séculos XVIII e XIX, tendo contribuído significativamente para o crescimento do Império Britânico e para o comércio transatlântico de escravos. A área até agora classificada pela UNESCO ia desde a orla marítima da cidade, passando pelos históricos bairros comerciais, até Saint George's Hall.
Entre os factores que pesaram na decisão da UNESCO está ainda o projecto de desenvolvimento urbanístico Liverpool Waters, um plano de reabilitação das docas com a construção de apartamentos, escritórios, lojas e hotéis, que a UNESCO classifica como “prejudicial à autenticidade e integridade” do espaço.
Anunciado há décadas, o projecto já tinha motivado a colocação de Liverpool na lista de Património Mundial em Perigo, em 2012. Defendia então o comité da UNESCO que o planeamento e construção de novos edifícios junto à frente marítima estava a mudar o perfil da cidade e a destruir o valor patrimonial das históricas docas.
Numa declaração apresentada à imprensa na quarta-feira, a autarca da cidade, Joanne Anderson, mostrou-se “extremamente decepcionada e preocupada” com a decisão agora tomada, que classifica como “incompreensível”, dado chegar “uma década depois” de o comité da UNESCO “ter visitado a cidade pela última vez para vê-la com os seus próprios olhos”. “O nosso Património Mundial nunca esteve em melhores condições, tendo beneficiado de investimentos de centenas de milhões de libras em edifícios listados e de domínio público.”
De recordar que, para além do potencial de atractivo turístico do selo UNESCO, a classificação dá acesso aos fundos de conservação das Nações Unidas.
Até ao momento, apenas dois outros locais tinham sido destituídos da classificação da UNESCO, criada com a Convenção para a Protecção do Património Mundial, Cultural e Natural, promulgada em 1972: um santuário de vida selvagem em Omã perdeu o estatuto de Património Mundial depois de caçadas ilegais e perda de habitat; e o vale do Elba, em Dresden, na Alemanha, saiu da lista em 2009, com a construção de uma ponte rodoviária de quatro vias sobre o rio.
Portugal tem, neste momento, 17 locais classificados como Património Mundial pela UNESCO.