Calçada portuguesa já faz parte do Património Cultural Imaterial do país
A “arte e saber-fazer da calçada portuguesa” foi inscrita no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial, quatro meses depois de aberto o processo de candidatura.
Sob proposta da Associação da Calçada Portuguesa, o processo foi aberto a 9 de Março deste ano e, dez dias depois, era apresentada a candidatura de inscrição da “arte e saber-fazer da calçada portuguesa” no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial. Quatro meses depois a proposta foi aceite, segundo o anúncio publicado esta quinta-feira em Diário da República.
Entre as principais ameaças à preservação deste tipo de pavimento, identificadas pela Associação da Calçada Portuguesa, estão a diminuição no número de mestres calceteiros, a falta de manutenção e a má construção, a forte concorrência de outro tipo de pavimentos e o declínio das indústrias de extracção e de transformação da pedra.
A título de exemplo, António Prôa, secretário-geral da associação, apontava em Março a diminuição drástica do número de calceteiros: em 1927 existiam na cidade de Lisboa cerca de 400 calceteiros, enquanto em 2020 esse número era de apenas 18, sendo que só 11 estavam no activo. O fraco reconhecimento social e remuneratório da profissão foi apontado como a principal justificação.
O também deputado municipal de Lisboa admitiu, na altura, que o objectivo final será, a curto prazo, apresentar na Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO, na sigla em inglês) uma candidatura da calçada portuguesa a Património Cultural Imaterial da Humanidade, à semelhança daquilo que sucedeu com o fado.
“A arte de calcetar é milenar, mas a produção de calçada portuguesa inicia-se como uma técnica específica na primeira metade do século XIX, em Lisboa, onde se desenvolve e ganha expressão em quantidade e qualidade extraordinárias, expandindo-se por todo o país e por vários continentes, como um traço indiscutivelmente marcante da matriz não só lisboeta como nacional”, pode ler-se na ficha de património imaterial.
O mesmo texto realça que esta arte, “caracterizada pelo carácter pré-industrial, pela beleza estética, durabilidade, sustentabilidade económica e ecológica”, tem ainda uma dimensão social: “os calceteiros, os extractores da pedra e os peões que nela pisam, tantas vezes sem a ver condignamente”.