Energia
Seis reportagens que explicam porque é que o lítio anda nas bocas do mundo
O início da exploração mineira de lítio em Portugal está cada vez mais próximo. Na última sexta-feira, terminou o período de discussão pública do Estudo de Impacte Ambiental da Mina do Barroso (Covas do Barroso), a que tem o processo mais avançado. Um conjunto de seis reportagens multimédia ajuda-nos a perceber as razões pelas quais este metal se tornou tão precioso nos últimos anos. E porque é que há várias comunidades em Portugal em pé de guerra por causa da sua mineração.
A partir do próximo domingo, 25 de Julho, o PÚBLICO começa a publicar uma série de seis reportagens multimédia sobre a exploração do lítio, um metal crucial para as baterias eléctricas e determinante para as metas da descarbonização com que o mundo se comprometeu na Cimeira de Paris, em 2015.
Os trabalhos serão publicados semanalmente no site do PÚBLICO e na edição impressa, no caderno P2. Estas reportagens, da autoria dos jornalistas freelancer Tiago Carrasco (texto) e Vítor Martinho (imagem), vão agregar um conjunto de formatos — texto, vídeo, fotografia e infografia —, de modo a explicar em várias frentes os desenvolvimentos de um tema que divide o país há mais de cinco anos.
O trabalho tem o apoio da bolsa de investigação jornalística da Fundação Calouste Gulbenkian, que permitiu o acompanhamento do tema ao longo de 18 meses. Durante o último ano e meio, os autores documentaram o profundo choque desencadeado pela perspectiva de abertura de minas de lítio na região do Barroso, Montalegre e Argemela e a luta que as populações locais encetaram para o evitar. O fio condutor desta série de reportagens é justamente o paradoxo entre a procura por um material ao qual é atribuída a missão de ajudar o planeta a salvar-se da poluição e o temor das populações locais de que a mineração desse metal polua e destrua o quotidiano das suas aldeias.
É uma história que incide ainda sobre os bastidores políticos e económicos da introdução de uma nova indústria, com todas as polémicas e contendas que uma corrida por um recurso crítico para a energia do futuro acarreta.
“Um metal para recarregar o mundo”
A primeira reportagem — Um metal para recarregar o mundo — explica o que é e de onde vem o lítio e quais as suas principais utilizações. Acompanha o trabalho de pesquisa dos geólogos nas universidades, conta como foi descoberto em Portugal e a sua distribuição pelo território, bem como quais as principais potências mundiais na sua exploração e aplicação a baterias de veículos eléctricos. Dá ainda a conhecer alguns dos principais intervenientes na luta contra as minas de lítio em Portugal. Este primeiro trabalho será acompanhado de uma infografia interactiva que ajudará os leitores a visualizarem todos os dados e informações necessárias para um melhor enquadramento de toda a série.
Na segunda parte — A chegada das picaretas —, a publicar a 1 de Agosto, a investigação recua no tempo para narrar como se deu a implementação das empresas mineiras nos projectos de exploração mais adiantados: Covas do Barroso, Montalegre e Argemela. Vai também dar a conhecer as companhias e os empresários que estão na corrida ao lítio em Portugal e o caminho que tiveram de percorrer para obterem as licenças necessárias, não livre de suspeitas de favorecimento, casos judiciais e questões por responder. Explica ainda as ambições do Governo e como sucessivos problemas deram origem a um grande atraso no arranque da estratégia nacional para o lítio.
A terceira reportagem — Nem um furo —, a 8 de Agosto, é sobre aquilo que Fernando Queiroga, o presidente da câmara de Boticas, classificou como a “maior luta do interior do país nos últimos anos”. Conta como agricultores, pastores, professores e académicos se juntaram nas aldeias remotas que têm lítio debaixo do solo para lutarem contra a abertura das minas: a indignação, o medo do desastre ambiental, as sessões de esclarecimento, as manifestações e as razões de tamanha aversão à exploração do metal das baterias. Explora também a organização comunitária em prol do objectivo da manutenção de um estilo de vida agrícola e sustentável; as “loucuras” já cometidas para derrotar as minas; e aquelas que as comunidades juram vir a cometer, se necessário.
O quarto trabalho — As zonas cinzentas da mineração verde —, a 15 de Agosto, concentra-se no conceito de green mining, isto é, o termo mais usado no sector para descrever formas de exploração mineira que, alegadamente, não ameaçam a natureza. Os críticos defendem que o conceito é utópico, porque a mineração implica sempre estragos ambientais, enquanto políticos e empresas de mineração advogam que a tecnologia actual permite neutralizar os impactes ao mínimo. A investigação disseca ainda o único Estudo de Impacte Ambiental tornado público em Portugal, da empresa Savannah em Covas do Barroso, para explicar o que está em causa.
Na quinta parte — A era dos cifrões eléctricos —, a 22 de Agosto, fala-se sobre dinheiro. São os milhões de euros anunciados para o sector das baterias de lítio, carros eléctricos e transição energética, a entrada do metal em bolsa, os dilemas sobre a possível escassez de matéria-prima para a transição almejada. Versa também sobre a perda de fulgor de Portugal na corrida a um mercado milionário e as consequências que isso tem para o único empresário português a produzir baterias estacionárias. É neste trabalho que daremos a conhecer a história do único corrector mundial de lítio, um português.
A sexta e última reportagem — As dores da transição —, a 29 de Agosto, concentra-se nas dúvidas que subsistem sobre a implementação e localização da prometida refinaria de lítio portuguesa, o braço-de-ferro entre empresas e o Governo pelo meio, os vencedores e os derrotados da transição energética. Analisa-se ainda o que poderá ser o futuro do lítio em Portugal e no mundo.