Procuradoria de Paris abre investigação sobre uso de spyware contra jornalistas franceses

Telemóvel de Macron também está na lista de Marrocos para espionagem através do Pegasus. Dois jornalistas do Mediapart foram identificados para potencial vigilância. Mas também foram selecionados jornalistas do Le Monde e das agência AFP e France 24.

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Além de Emmanuel Macron, estão na lista 14 ministros franceses e vários jornalistas Reuters/POOL
Edwy Plenel, à direita, é dos fundadores da plataforma francesa Mediapart
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Edwy Plenel, à direita, é um dos fundadores da plataforma noticiosa francesa Mediapart rui gaudencio

A Procuradoria de Paris abriu esta terça-feira uma investigação sobre a alegada ciberespionagem de jornalistas franceses através do spyware (programa espião) Pegasus, da empresa israelita NSO. Segundo a investigação internacional que avançou a informação, mais de 180 jornalistas por todo o globo foram seleccionados para potencial vigilância.

Em comunicado, a Procuradoria afirmou que a investigação vai analisar dez potenciais acusações, incluindo a violação de privacidade, acesso ilegal de dados e venda ilegal de “dispositivo técnico que tem o objectivo de recolher dados”.

A investigação não identifica suspeitos dos crimes, mas afirma ter decidido abrir a investigação após ter recebido queixas do jornal digital Mediapart. O caso ficou encarregue do departamento da Polícia Judiciária que trabalha com casos de cibercrime, segundo a Euronews.

A queixa foi apresentada na segunda-feira pelo Mediapart, onde trabalham os jornalistas em causa. No Twitter, a plataforma acusou os serviços de inteligência de Marrocos de usarem o Pegasus para vigiar os telemóveis dos seus jornalistas, um deles é co-fundador da plataforma noticiosa, Edwy Plenel.

“A única forma de chegar ao fundo da questão é através de uma investigação independente levada a cabo pelas autoridades judiciais sobre a espionagem difundida em França e organizada por Marrocos”, disse o jornal na rede social. As autoridades de Marrocos, por sua vez, negaram as acusações, afirmando serem “alegações falsas e sem fundamento”.

A informação dos milhares de potenciais alvos de cibervigilância foi avançada por uma investigação internacional, desenvolvida por duas organizações não-governamentais e 17 media, entre eles o Le Monde, o Guardian e Washington Post. 

Segundo o projecto, mais de 50 mil números de telemóvel de todo o globo foram obtidos numa fuga de informação da NSO. Entre eles encontram-se políticos e jornalistas franceses que trabalham em órgãos de comunicação franceses que também terão sido seleccionados por Marrocos, incluindo funcionários do Le Monde e das agências AFP e France 24.

No panorama geral, foram identificados para serem potenciais alvos pelo menos 180 jornalistas, 600 políticos e 85 activistas de direitos humanos, e 65 executivos de todo o mundo. Se o software Pegasus conseguir infectar um telemóvel, qualquer informação ou ficheiro pode ser acedido à distância: mensagens, fotografias, emails e, inclusivamente, podem ser activados o microfone, a câmara e a localização.

A empresa israelita que vende o software, a NSO, negou manter “uma lista de potenciais alvos passados ou futuros”, acusando a investigação de “estar repleta de suposições erradas e teorias não fundamentadas”. 

Na terça-feira, o fundador do grupo NSO, Shalev Hulio, disse a uma rádio israelita que está convicto que as acusações “vão acabar nos tribunais, com um veredicto a favor da empresa, depois de apresentarem processos por difamação”.

Telemóvel de Macron na lista de Marrocos

A investigação jornalística levada a cabo pelo consórcio Fobidden Stories, revelou esta terça-feira que pelo menos um telemóvel de Emmanuel Macron foi espiado a pedido das autoridades marroquinas, assim como 14 ministros franceses.

Para além do número de Emmanuel Macron, também o número de Edouard Philippe, antigo primeiro-ministro, e de pelo menos 14 ministros está na lista que Marrocos terá pedido à empresa israelita para espiar.

Marrocos terá pedido que a NSO Group analisasse pelo menos 10 mil números e cerca de 10% são franceses.

Ao jornal Le Monde, o Eliseu disse que “caso os resultados da investigação se confirmem, os factos são muito graves” e “tudo será esclarecido sobre estas revelações”.

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