A pandemia trouxe a tendência do conforto para a roupa, acessórios e, claro, para o calçado. Mas, já muito antes, a marca portuguesa Atlanta Mocassin produzia calçado confortável para todo o mundo. São especialistas em mocassins desde 1987 e, agora, querem mostrar aos portugueses que estes sapatos são para todas as idades e que também podem estar na moda.
Mais de 80% dos sapatos produzidos pela empresa familiar portuguesa são para o estrangeiro e têm como destino retalhistas de mais de 30 países diferentes. Estados Unidos, Rússia e Japão são os três mercados principais. Os números estão em linha com o restante sector do calçado — Portugal exporta mais de 90% do calçado. A indústria cresceu cerca de 50% na última década, tendo facturado 1,7 mil milhões de euros em 2019, segundo avançava a Associação Portuguesa dos Industriais do Calçado, Componentes, Artigos de Pele e Seus Sucedâneos (APICCAPS) à Reuters, em Novembro do ano passado.
Durante o último ano, fruto da pandemia e do aumento das compras online, registaram um “aumento brutal” das vendas em Portugal, começa por avançar, ao PÚBLICO, a gestora de e-commerce e marketing digital da Atlanta Mocassin, Inês Almeida. A tendência para o conforto terá incentivado o crescimento, mas, acreditam, tal também se deverá a uma mudança de mentalidade nos consumidores, que investem “um pouco mais num produto porque sabem que vai durar mais tempo”, aponta Inês Almeida. Além disso, comprar português também nunca fez tanto sentido como agora. É tudo produzido em Portugal, de forma artesanal, em fábricas de Felgueiras e Guimarães com matérias-primas sobretudo portuguesas — à excepção de algum couro italiano.
“O mocassim como um sapato de pessoas mais velhas”
Mas o que têm de especial os mocassins da Atlanta? “São feitos de baixo para cima”, sublinha a coordenadora comercial e de desenvolvimento de produto da empresa, Bárbara Santos. O sapato “luva”, explica, é construído a partir da base que é, depois, cosida à mão à peça superior. “É um processo altamente manual e de que temos muito orgulhoso porque o continuamos a fazer exactamente igual”, reforça.
O grande desafio da marca tem sido modernizar “um produto tão clássico”, confessam Inês Almeida e Bárbara Santos. “As pessoas olham para o mocassim como um sapato de pessoas mais velhas”, lamenta a gestora de e-commerce e marketing digital. Por isso, têm tentado reinventar este tipo de sapato, não perdendo o modelo original com o conforto que se espera de um mocassim, mas criando linhas mais jovens, com combinações de cores mais arrojadas e texturas diferentes. “Acho que o segredo aqui é tentar aliar o conforto, que é algo a que já dedicamos muito, com a parte mais de moda e tentar criar modelos mais apelativos”, acrescenta.
E não só de mocassins vive a Atlanta. Os ténis, os slippers, os sapatos de vela e os loafers são outras das apostas, numa “tentativa de diversificar o público”. “O nosso maior objectivo é mostrar que a camada mais jovem consegue usar e fica bem a usar mocassins”, resume Bárbara Santos.
Nesse sentido, têm apostado cada vez mais na sustentabilidade, ainda que garantam serem sustentáveis há mais de 30 anos, por funcionarem com o sistema made to order. Ou seja, só depois de um retalhista fazer uma encomenda é que mandam produzir o número de sapatos vendido, evitando o desperdício. O mesmo acontece na venda directa ao cliente, através da loja online. Recentemente lançaram também uma colecção em que reaproveitam restos de peles para fazer novas combinações, “diferentes e mais arrojadas”.
Ainda que queiram incentivar uma compra consciente, que aposta em qualidade em vez de quantidade, destacam que a maior parte dos clientes é recorrente. Muitos chegam à loja online depois de terem comprado pela primeira vez através de um retalhista e compram para toda a família. “Isso é outra das grandes vantagens do nosso conceito, o facto de os nossos mocassins puderem ser feitos desde bebé até adulto, seja para homem ou mulher”, enaltece Inês Almeida. De miúdos a graúdos, o foco estará sempre nos mocassins, sem descurar as tendências e no caminho para voltar a pôr os mocassins na moda.