Arquitectura
Em Paredes de Coura, de uma ruína centenária se ergueu uma provocação ao passado
Em Romarigães, Paredes de Coura, uma ruína “pouco comum” foi recuperada e desafia o passado a conhecer o conforto contemporâneo.
Era uma ruína pouco engraçada, não tinha tecto, não tinha nada, na freguesia de Romarigães, em Paredes de Coura. Muito antiga, feita de pedra, terá sido construída há cerca de um século e abandonada há quase 50 anos. Passaria despercebida, não fosse a forma peculiar, semelhante a uma caixa, “um tipo de moradia pouco comum em Paredes de Coura”, explica o arquitecto Tiago Sousa.
A Box House nasce de um projecto de reabilitação, iniciado em 2019. “Daquilo que sei, a casa terá sido construída para marcar uma praça, um largo, onde as pessoas de Romarigães se reuniam para festas, onde o dia-a-dia era feito. A casa era ‘senhorial’, diferente do comum”, explica Tiago Sousa, responsável pelo projecto. “Hoje, o largo já não existe, já não se mantêm as mesmas tradições, mas a casa está lá.”
Ainda que as altas paredes de pedra da casa guardem histórias para contar e esse património deva ser preservado, como reconhece Tiago Sousa, há espaço para um jogo entre o contemporâneo e o antigo. “Mantive a ruína e achei que precisávamos de trazer um conflito entre o antigo e o novo, para provocar a tradição, a memória do passado”, diz, em conversa com o P3.
No exterior, o arquitecto procurou conjugar materiais com texturas semelhantes — a pedra, o betão e o tijolo maciço — para que, numa disputa saudável, estabelecessem uma relação. Dado o primeiro passo para lá da porta de entrada, os materiais em bruto são substituídos pelo “conforto”. “A ideia foi manter o espaço o mais branco possível, para que tivesse bastante luz, um dos requisitos do cliente”, esclarece Tiago Sousa. “A madeira dá vida e calor ao interior. Traz conforto. Não estamos dentro de um congelador, muito branco, muito limpo, mas dentro de um espaço rural. É o conforto que nos leva à ideia de família e de aldeia.”
Nesta obra de reabilitação, concluída ao fim de dois anos, todos os construtores, electricistas ou engenheiros são de Paredes de Coura, garante Tiago Sousa, que também cresceu na vila de Viana do Castelo. “Não precisamos de procurar lá fora, pelo mundo. Temos aqui trabalhadores exemplares.”
A nova casa, desenhada para uma família, está, agora, pronta a habitar. Ivo Tavares fotografou as suas particularidades, “alinhamentos e simetrias”.