Por um punhado de cromos

As cadernetas são também bons manuais de geografia e geo-política. Como a do Europeu de 1992, na Suécia. Voltei aos cromos nesse ano, mas já sem sucesso.

Um dia, alguém irá contar a história recente europeia (e mundial também, porque não) folheando as páginas das cadernetas de cromos. O desenho dos álbuns. Os penteados. A ascensão e queda do bigode farfalhudo. As camisolas justas e os calções de balão. As inovações técnicas dos cromos 3D (!) ou dos que reflectiam a luz.

O primeiro europeu a sério que vi foi o de 88, na Alemanha. Ganhou a Holanda de Van Basten, Koeman, Gullit e Rijkaard. Quando a caderneta me chegou às mãos, acompanhada pela primeira saqueta de cromos, era pela equipa a casa que eu torcia, mas aqueles 11 jogadores com um equipamento estranho, que pintavam os estádios de laranja eram apaixonantes para um miúdo. Foi a primeira caderneta que completei. Guardei-a religiosamente uns bons anos. A elegância daquele chapéu do Van Basten ao Dassaev. Aquele movimento de cabeça do Gullit. Estavam ali, colados no álbum da Panini.

As cadernetas são também bons manuais de geografia e geo-política. Como a do Europeu de 1992, na Suécia. Voltei aos cromos nesse ano, mas já sem sucesso. Portugal, já se sabe ainda não estava virado para essas coisas do futebol de selecções, restava a Holanda, que ainda não era Países Baixos, e ficou-se pelo primeiro jogo a eliminar. O pior não foi a eliminação, foi a caderneta não ter conseguido acompanhar a realidade de uma Europa em rápida mudança, e não ter saído um único cromo do campeão europeu.

A Alemanha apareceu unificada na Suécia, e já não era a RFA. A União Soviética, tinha se desmoronado, e substituída por uma seleção da CEI. E a Jugoslávia, que também se tinha apurado, estava afundada numa guerra fratricida. Foi a Dinamarca no seu lugar. Mas só no campo, porque das saquetas continuavam a sair cromos jugoslavos.  E a Dinamarca a ganhar.

Parece este europeu, que o Platini desenhou, estendido a todo o comprimento do Velho continente. Que ganhe a Dinamarca, porque agora, com cromos, é a valer.

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