“Todas as cartas de amor são ridículas”, escreveu Álvaro de Campos, em 1935. Mas o heterónimo de Fernando Pessoa não conheceu a vida e obra da poetisa norte-americana Sylvia Plath, nem leu as suas cartas de amor dedicadas ao também poeta Ted Hughes. As declarações de amor da sofrida poetisa ao marido britânico, as suas alianças de casamentos, algumas receitas de família e os álbuns de fotografias vão, agora, a leilão na Sotheby’s.

O romance de Sylvia Plath e Ted Hughes é dos mais icónicos da história da literatura. Os poetas casaram em 1956 e a relação teve tanto de tumultuosa, como de apaixonada. As cartas em leilão ─ entre os dias 9 e 21 de Julho ─ acompanham o decorrer de relação, desde a paixão inicial até à agonia da separação, quando Hughes foi estudar para Cambridge. Na mesma altura, o poeta mantinha uma relação extraconjugal com a alemã Assia Wevill, um dos motivos para a separação do casal em 1962.

Sylvia Plath transformou os seus demónios e traumas em poemas, resultando nalguns dos versos mais inquietantes da literatura moderna inglesa. Em 1961, a poetisa sofreu um aborto e escreveu sobre o tema, o que, à época, era incomum. “Sabes que tens a boca amorosa mais deliciosa, os teus olhos abrem-se e és todo quente, suave e elegantemente musculado e meu Deus, enlouqueço quando me deixo pensar em ti”, escreveu numa das cartas.

O especialista em literatura inglesa e manuscritos da Sotheby’s, Gabriel Heaton, descreve, em declarações ao jornal The Guardian, a colecção de 55 objectos como algo sem precedentes. São 32 cartas escritas entre 1956 e 1961, incluindo algumas enviadas aos sogros ─ com valores de leilão a partir das sete mil libras (8170€, ao câmbio actual). “Também se percebe o forte sentido de colaboração literária entre os dois [Plath e Hughes], como trabalham e pensam juntos”, sublinha.

Já os álbuns de fotografias incluem diversos momentos de família, como uma viagem de carro pela América, relatada também no livro Cartas de Aniversário, de Ted Hughes. Para leilão está também um baralho de cartas de tarô oferecido à poetisa pelo marido, no seu aniversário, e, ainda, um retrato desenhado por Sylvia Plath durante a lua-de-mel de ambos, em Benidorm, Espanha.

A história de amor e a vida da poetisa terminaria de forma trágica com o seu suicídio em 1963, com apenas 30 anos. Sylvia Plath terá colocado a cabeça dentro do forno a gás, quando os dois filhos ─ que escaparam ilesos ─ dormiam no quarto. Os objectos da colecção pertencem aliás a Frieda Hughes, a filha dos poetas. Ted Hughes morreu em 1998.