As dores da fuga e do regresso a casa por Ivo van Hove

Será um dos momentos teatrais do ano: Édouard Louis por Ivo van Hove no Festival de Almada. De 8 a 10 de Julho, no Teatro Nacional D. Maria II, Quem Matou o Meu Pai é tanto um mea culpa quanto uma acusação do abandono a que o Estado vota os seus cidadãos mais vulneráveis.

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Jan Versweyveld

Nas últimas semanas, o encenador belga Ivo van Hove viu-se diante de dois homens que lidavam com esta ideia inculcada nas nossas sociedades de que ao cromossoma Y não é permitido chorar. Chorar como verbo sinalizador de fraqueza, de vulnerabilidade, de feminilidade, de falta de dignidade. Numa dessas ocasiões, van Hove recebeu um colaborador da sua companhia em Amesterdão, a atravessar uma pequena crise, tentando não ceder às lágrimas. Na outra, mais impressionante, recebeu um email de um homem com quem tivera uma breve relação amorosa na adolescência, do qual nunca mais tivera notícias. “Tinha 14 anos — agora tenho 62, por isso foi há muito tempo”, conta ao Ípsilon. “De repente, um tipo que nunca mais vi escreve a dizer-me que tem mulher e filha, e é totalmente infeliz.” Traçava também uma diferença entre os dois: identificava-se como “perdedor” e descrevia van Hove como “a estrela”. E terminava descrevendo o quanto a sua sensibilidade e o facto de chorar com facilidade ao ver televisão era punido e criticado pela mulher dizendo-lhe que “um homem não chora assim”. “Continua a acontecer”, diz van Hove. “A pressão para que um homem não chore não é uma coisa do passado.”

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