Natal em Junho

Há coisas que têm muito mais graça com crianças. O Natal, acima de todas. Talvez eu ainda pudesse ser considerada criança e já era o entusiasmo de outros pequenos que fazia aquela noite.

Assim que o meu irmão cresceu o suficiente (e ficou adolescente o suficiente) lembro-me da falta que me faziam olhos arregalados e gritinhos de emoção. E da alegria que foi aquele Natal em casa da nossa tia. A imagem da minha prima, com uns cinco anos, sem conseguir parar de saltar quando viu o que a esperava na chaminé. Sem aviso, ainda bateu um Pai Natal à porta para a loucura ser completa. Feliz, passei horas a montar os pertences dos Nenuco gémeos.

Outras vezes, fui ao início dos Natais de namorados encher o coração de vozes e corridas infantis antes de voltar à casa do meu Natal – aquela onde estivesse o meu irmão.

Dos anos em que era eu a ter a idade certa para me encantar ficaram mais memórias de futebol do que de Natais. Jogos entre selecções. Era Verão e, de tarde ou de noite, via os jogos com o meu pai e aprendia sobre aqueles países e aqueles homens, sobre as regras e as bandeiras. O jogo parecia-me belo, um passe impossível, um golo de cortar a respiração. E era.

O futebol tornou-se uma das minhas relações mais estáveis. Mais o Benfica que a selecção, cada vez mais a selecção. Deixarmo-nos levar por um jogo de futebol é a melhor receita para nunca deixarmos de ser crianças.

O Euro 2020 em 2021 já é o melhor de sempre. Para mim, a viver agora com uma criança “Goloooo!!”, grita, com a sua voz doce e olhos de um brilho incrível, a correr no descontrolo da alegria pura. E eu de sorriso rasgado e coração a transbordar. Vamos contar-te muitas vezes dos teus primeiros golos, no mesmo Verão em que descobriste o prazer de jogar à bola.

Euro é Natal em Junho quando Junho é Verão antes de o ser. O Verão passado foi bem bom. Mas neste é Natal.

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