Rudolph Giuliani suspenso da advocacia por mentir em tribunal sobre queixas de Trump

Advogado e antigo presidente da câmara de Nova Iorque fez “declarações comprovadamente falsas e enganadoras aos tribunais, aos legisladores e ao grande público” para sustentar queixas infundadas de fraude eleitoral, diz o Supremo Tribunal de Nova Iorque.

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Giuliani discursou no comício de Donald Trump que antecedeu a invasão do Capitólio, a 6 de Janeiro Reuters/JIM BOURG

Rudolph Giuliani, o antigo presidente da câmara de Nova Iorque e ex-advogado de Donald Trump, foi suspenso de exercer advocacia, esta quinta-feira, por ter feito “declarações comprovadamente falsas e enganadoras aos tribunais, aos legisladores e ao grande público”, durante os meses em que apoiou o ex-Presidente dos EUA nas suas queixas infundadas de fraude eleitoral.

Numa decisão conhecida na tarde desta quinta-feira, o Supremo Tribunal de Nova Iorque – responsável por avaliar as queixas contra os advogados que têm licença para trabalhar no estado – salienta a “gravidade” das acusações contra Giuliani.

A suspensão temporária, decidida pelo tribunal, é “uma solução que apenas está disponível para casos em que é necessário proteger imediatamente o público das violações do réu”.

Giuliani, de 77 anos, pode recorrer da suspensão temporária e aguarda ainda uma decisão definitiva das investigações que estão a ser conduzidas pela Ordem dos Advogados do estado.

Para o colectivo de cinco juízes, ao mentir nos tribunais e em declarações no Congresso e nas televisões, o advogado agiu com o objectivo de “reforçar a narrativa de que a vitória do seu cliente na eleição presidencial de 2020 tinha sido roubada devido a fraude eleitoral”.

“Concluímos que a conduta do réu constitui uma ameaça premente ao interesse público e requer uma suspensão provisória da prática da lei, ficando dependente de futuras determinações da Comissão de Disciplina da Ordem dos Advogados”, diz a decisão do tribunal.

Sem provas

Após a noite eleitoral de 3 de Novembro de 2020, Giuliani e outros apoiantes de Trump na Casa Branca e no Partido Republicano tentaram descredibilizar a vitória de Joe Biden, com base na queixa – nunca provada em tribunal – de que a eleição tinha sido manipulada a favor do candidato do Partido Democrata.

Numa primeira fase, em mais de 50 queixas nos tribunais – incluindo no Supremo Tribunal dos EUA –, Giuliani colaborou na entrega de documentos que serviriam, segundo as suas declarações públicas, para provarem a existência de uma conspiração contra Trump. Na prática, a maioria dos processos incluía apenas indícios de inconsistências e problemas comuns em todas as eleições, ou então, afirmações sem sustentação legal.

Em finais de Novembro de 2020, por exemplo, o juiz Stephanos Bibas – nomeado por Donald Trump para o Tribunal de Recursos do Terceiro Circuito – rejeitou um pedido para que a declaração de vitória de Joe Biden na Pensilvânia fosse bloqueada.

“As acusações de injustiça são graves, mas não basta dizer que uma eleição é injusta para que essa eleição seja, de facto, injusta”, disse o juiz na sua decisão, a 27 de Novembro de 2020. “As acusações requerem a existência de alegações específicas e de provas. Neste caso, não temos nenhuma das duas.”

O mayor da América

Antes da sua associação a Donald Trump, Giuliani era recordado nos EUA como “o mayor da América”, devido à forma como liderou a cidade de Nova Iorque após os atentados terroristas de 11 de Setembro de 2001.

Já com Trump na Casa Branca, o advogado destacou-se por estar no centro de uma campanha que tinha como objectivo levar o Presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, a anunciar a abertura de investigações por corrupção contra o filho de Joe Biden, Hunter Biden.

As acusações políticas no Partido Democrata contra Trump, pela forma como agiu no caso da Ucrânia, levariam o então Presidente dos EUA a ser alvo de um primeiro processo de destituição na Câmara dos Representantes, que terminou com a sua absolvição no Senado.

Em Janeiro deste ano, Trump viria a ser alvo de um segundo processo de destituição na câmara baixa do Congresso – e pelo qual também viria a ser absolvido no Senado –, na sequência da invasão do Capitólio pelos seus apoiantes, a 6 de Janeiro.

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