Tim-Berners Lee está a leiloar cópia do código fonte da World Wide Web

Uma cópia do código fonte da World Wide Web, assinada por Tim Berners-Lee, está em leilão por mais de 1,5 milhões de euros.

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Um dos objectivos de Tim-Berners é mostrar como os NFT podem ajudar artistas enric-vives rubio/reuters

Tim Berners-Lee, o cientista britânico que criou a World Wide Web — o conjunto interconectado de páginas acedidas através da Internet — em 1989, está a tentar vender uma cópia assinada do seu código fonte. Desde a semana passada que o ficheiro está a ser leiloado pela casa de leilões de luxo Sotheby's, com a última licitação a ultrapassar os 1,4 milhões de euros. 

O dono terá acesso a um vídeo de 30 segundos de Berners-Lee a digitar o código, ficheiros que documentam a hora em que a primeira versão foi criada, uma carta do cientista e um conjunto assinado de imagens do código completo. O conjunto forma um NFT ou criptoarte: um processo online que transforma algo (seja um vídeo, mensagem, mensagem de voz ou vídeo) num item que não pode ser falsificado. Isto é feito ao registar os itens em redes descentralizadas (as chamadas blockchains) criadas para transacções com criptomeadas.

“As pessoas parecem apreciar versões autografadas de livros, e agora temos NFT, pareceu-me que podia ser interessante criar uma versão autografada do código original do primeiro navegador da Internet”, justificou Tim-Berners Lee na carta.

“Não estou a vender a Web”

No entanto, a iniciativa de Tim Berners-Lee leiloar um NFT tem sido alvo de algumas críticas por parecer contrariar a ideia de uma Internet livre, para todos. Tim Berners-Lee rejeita a ideia.

“Nem sequer estou a vender o código fonte. Estou a vender uma fotografia que fiz, com um programa Python [de programação] que escrevi sozinho, do que o código fonte pareceria se ficasse colado a uma parede e fosse assinado por mim”, explicou Berners-Lee em declarações ao jornal britânico Guardian. “A Internet continua a ser tão grátis e aberta como sempre foi”, sublinha. “Não estou a vender a Web — não vão [começar a] pagar dinheiro para seguir links.”

Um dos objectivos de Lee é mostrar como os NFT podem ajudar artistas: “[Sempre estive interessado] em perceber se podemos usar NFTs para financiar pessoas criativas como músicos e artistas”, argumentou.

Só que apesar do potencial do fenómeno para ajudar artistas e dificultar a pirataria e falsificação de obras, a tecnologia implica um elevado custo ambiental.

Muitos dos mercados de compra e venda de NFT funcionam através da blockchain da criptomoeda ethereum. E, tal como outras blockchains, os novos registos de NFT são agregados em blocos e validados por milhares de computadores ligados à rede num processo que gasta muita energia. 

Depois, há quem questione o valor dos NFT relativamente a meras imagens que podem ser copiadas online. “As pessoas estão essencialmente a pagar por marcas de água”, problematizou em Maio Katya Fisher, uma advogada especializada em assuntos legais que envolvem tecnologias emergentes que falou com o PÚBLICO sobre arte NFT. 

Ainda assim, é um mercado em crescimento. De acordo com dados da NonFungible, uma empresa de análise de dados que se especializa em NFT, o valor destes tokens digitais passou de 40,9 milhões de dólares em 2018 para 338 milhões de dólares em 2020.

Em Portugal, já há vários artistas a criar obras NFT, incluindo o artista plástico Vhils e os músicos portugueses Conan Osiris, Holly e St. James Parks que se associaram recentemente ao fotógrafo Pedro MKK para criar o NFT Cobras.

O leilão de Tim-Berners Lee termina a 30 de Junho. Às 21h de quarta-feira, hora de Lisboa, o código fonte da Web valia cerca de 1,4 milhões de euros. 

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