Ferrari ostenta os seus últimos modelos na passarela (e não estamos a falar de carros)

A nova marca de vestuário é lançada este domingo. Segundo fontes da indústria, espera-se que a colecção se inclua numa categoria de “luxo médio”, ficando disponível nas lojas da empresa e online.

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Reuters/GUGLIELMO MANGIAPANE

A Ferrari acelera em trazer a sua marca de vestuário Prancing Horse (Cavallino Rampante) para a passarela, numa tentativa de atrair novos clientes abastados. A colecção de moda da empresa italiana é lançada já este domingo.

A nova linha foi criada pelo director criativo e antigo designer da Armani, Rocco Iannone. Segundo Nicola Boari, responsável pela diversificação da Ferrari, o objectivo com esta iniciativa é alcançar novos clientes “tanto em termos de idade como de cultura”, para lá dos seus fãs de corridas e compradores de carros desportivos que já cobiçam os seus casacos, T-shirts e chapéus da marca.

A base de consumidores dos carros da Ferrari está limitada a menos de dez mil veículos por ano, e a fabricante de automóveis de luxo espera que a sua estratégia de extensão de marca, que incluirá também a criação de um restaurante, seja responsável por 10% dos lucros dentro de uma década.

Contudo, o construtor italiano está longe de ser a primeira marca de automóveis de luxo a aventurar-se em negócios de lifestyle. Outras, como a Lamborghini e a Bentley, do Grupo Volkswagen, bem como a empresa de motociclos americana Harley-Davidson, voltaram-se para as colecções de vestuário.

“A Ferrari é uma das marcas mais fortes do mundo e definitivamente a marca mais forte na indústria do luxo”, sublinhou Massimo Pizzo, da Brand Finance, uma consultora de avaliação de marcas. Assim, justificou, “tem potencial de sucesso mesmo na indústria do vestuário de luxo”. Contudo, segundo analistas, a nova estratégia de marca levará tempo a ser bem-sucedida, tendo alguns inclusivamente sido cautelosos quanto à sua potencial contribuição para a rentabilidade da empresa. “Dado o tipo de escala de que se precisa para ser rentável no luxo, não creio que isto seja gradativo às margens da Ferrari, que já são bastante altas”, disse Susy Tibaldi, do banco suíço UBS.

A empresa italiana, que planeia inicialmente vender a sua linha de moda através das suas lojas e do digital, irá competir com pesos pesados do luxo, num mercado estimado em cerca de 280 mil milhões de euros em 2021. Também a sua empresa-mãe, a Exor, a empresa de investimento da família italiana Agnelli, se tem vindo a mudar para o luxo. Recentemente comprou 24% da fabricante de sapatos Christian Louboutin e tornou-se o maior investidor no grupo de luxo chinês Shang Xia, co-fundado pelo grupo francês Hermès.

Pronto-a-vestir de qualidade

A Ferrari recusou-se a dar detalhes da sua colecção antes da grande revelação deste domingo. No entanto, à medida que se afasta do vestuário licenciado que já vende, fontes da indústria esperam que a nova linha se inclua numa categoria de “luxo médio”, um nível abaixo de marcas de topo como a Gucci, Prada e Dolce & Gabbana. Assim, espera-se que a colecção inclua artigos de pronto-a-vestir feitos com tecidos de alta qualidade, em vez de visuais mais descontraídos de roupa para o dia-a-dia.

As criações poderão inspirar-se na experiência de Iannone na casa de moda italiana Armani e no alfaiate Pal Zileri, com linhas limpas e elegantes e detalhes subtis e minimalistas. “É evidente que deve haver uma narrativa, com foco em ‘feito em Itália’, não podem simplesmente emergir com uma T-shirt com um logótipo”, antecipou Tibaldi.

A estratégia de extensão da marca, que inclui moda, restaurantes e outras experiências de luxo, já tinha sido revelada em 2019, pelo antigo chefe executivo da Ferrari, Louis Camilleri, pouco antes da pandemia de covid-19, que atrasou os planos. O lançamento chega agora dias após a nomeação da nova pessoa para o cargo, Benedetto Vigna, um físico de 52 anos que passou 26 deles na fabricante de semicondutores STMicroelectronics e que deverá conduzir a Ferrari para a era dos carros eléctricos.

De futuro, a fabricante de automóveis pretende cortar cerca de metade dos seus acordos de licença e aparar cerca de 30% das suas categorias de produtos, uma vez que, segundo Camilleri, os desdobramentos (spin-offs) da marca já se esticaram demasiado. Perfumes e alguns produtos de gama baixa sem valor real para além do logótipo são alguns dos que já desapareceram das prateleiras.

No ano passado, em época de pandemia, 11,3% das receitas líquidas da Ferrari vieram da categoria dos patrocínios, comercial e marca — que inclui a equipa de Fórmula 1 e as receitas geradas pela marca através do merchandising, licenciamento e royalties —, reflectindo uma descida dos 14,3% obtidos em 2019.