Designing Motherhood, a exposição que nos revela o design do copo menstrual e muito mais
Começou por ser um livro, Designing Motherhood - Things that Make and Break Our Births, de Michelle Millar Fisher e Amber Winick, editado em Setembro pela M.I.T. Press, e já levou a que duas exposições estejam a ser preparadas nos Estados Unidos com estes objectos de design que até agora dificilmente entravam num museu.
Se cada mulher, de cada vez que tem o ciclo menstrual, pensasse na quantidade de dinheiro que ao longo da vida gasta em pensos higiénicos e tampões, que depois acabam descartados, talvez o copo menstrual já fosse há mais tempo uma peça com honras de museu. O que importa é que agora já é.
Uma pequena exposição abriu em Maio no Mütter Museum, um museu de história médica em Filadélfia, nos Estados Unidos, e entre os variados objectos de design ligados à maternidade e à higiene feminina está o copo menstrual, que foi criado em 1867: meio século antes de os tampões menstruais surgirem no mercado e uma década antes do aparecimento do penso higiénico. É um objecto lavável, durável e flexível e com uma forma reconhecível: parece um sino virado ao contrário.
Uma outra exposição, mais completa, está a ser preparada para abrir em Setembro no Center for Architecture and Design, na mesma cidade norte-americana. Estavam programadas para abrirem simultaneamente, mas a pandemia impediu-o.
Ambas têm por base um livro que foi lançado em Setembro de 2020: Designing Motherhood - Things that Make and Break Our Births, de Michelle Millar Fisher, curadora de artes decorativas contemporâneas no Museum of Fine Arts em Boston, e de Amber Winick, uma historiadora do design, editado pela M.I.T. Press.
Esta obra, com secções dedicadas à reprodução, gravidez, nascimento e pós-parto, mostra mais de oitenta objectos de design, uns icónicos, outros arcaicos, alguns de uso quotidiano e outros que são objecto de tabu, que em comum têm o terem definido “o arco da reprodução humana”.
Nova preocupação: sustentabilidade
As autoras investigaram, por exemplo, a história dos hoje tão comuns porta-bebés, desde o Snugli até ao sueco BabyBjörn, mas também o design da saia com a cintura amarrada — para não se perceber a gravidez — que foi usada pela actriz Lucille Ball na série I Love Lucy que passou na televisão norte americana entre 1951 e 1957. Sobre o livro, a curadora de design contemporâneo Ellen Lupton, que já o leu, escreve: “Acredito que este é um trabalho de grande importância para os estudos do design, mas também para o feminismo, os estudos de género e para a história cultural. Certamente não nos traz uma visão esperada do que constitui o ‘design'”.
Por exemplo, o copo menstrual surgiu na década de 1930 nos Estados Unidos, mas com a escassez de borracha durante a Segunda Guerra Mundial foi o tampão descartável, feito de algodão, que ganhou terreno e tem dominado as preferências desde então. Mas as novas gerações, com maiores preocupações quanto à sustentabilidade, reabilitaram o copo menstrual e até a Tampax lançou um modelo em 2018.
Uma curiosidade que se fica a saber na exposição Designing Motherhood é que o primeiro anúncio feito a um copo menstrual nos EUA foi protagonizado por uma actriz da Broadway, Leona W. Chalmers, que queria usar peças de roupa de seda branca sem medo que ficassem manchadas de sangue menstrual.
Mudam-se os tempos
As duas exposições contam ainda com a participação na curadoria de Juliana Rowen Barton, também historiadora e curadora especialista em questões de raça, género e design, e da artista Zoë Greggs, além das autoras do livro,
Como lembra a jornalista Melena Ryzik, no artigo que escreve para o jornal New York Times, parece começar a haver uma mudança de mentalidade e estão agora a chegar aos museus objectos que pertencem a mulheres, mães e grávidas, ligados à maternidade e fertilidade, que muitas vezes são usados quotidianamente como bombas para se tirar leite ou anticoncepcionais como o DIU, testes de gravidez caseiros (criados por mulheres designers como Meg Crane, em 1967), ou até equipamentos utilizados em ginecologia e obstetrícia como o espéculo vaginal ou o fórceps mas que nunca foram estudados na sua história, forma ou função. São “objectos que normalmente não são valorizados pela sua estética, e muitas vezes são culturalmente invisíveis”, lê-se na reportagem.
E segundo Michelle Millar Fisher, uma das autoras do livro, há uma razão para isso: até recentemente as pessoas que usam estes objectos não tinham poder para escrever a história, tomar decisões ou enquadrar a cultura material, diz a curadora ao New York Times.