Muito lá de casa

Durante décadas, em Portugal, as actrizes das telenovelas brasileiras criaram uma segunda Hollywood, talvez menos nobre, mas não menos sedutora que a original. Em que as personagens, se pudessem, conseguiriam conversar, sem tradução, com os telespectadores.

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É quando o obituário aparece que nos lembramos delas, das actrizes brasileiras da televisão. Utilize-se o pronome pessoal com cuidado, corresponderá a um público que as encontrou, durante décadas, em Portugal, nas televisões generalistas. Sónia Braga, Dina Sfat, Elizabeth Savalla, Betty Faria, Fernanda Montenegro, Bruna Lombardi, Tónia Carrero, Maria Zilda, Elizabeth Savalla, Glória Menezes, Marília Pêra, Zezé Mota, Malu Mader, Eva Wilma, Lucélia Santos, Ruth de Souza, Maité Proença, Glória Pires, Renata Sorrah, Regina Duarte, Cassia Kiss, Lídia Brondi, Cristiana Oliveira, Adriana Esteves, Débora Falabella, Taís Arújo. O desfile é cronológico, incompleto e, provavelmente até, supérfluo. As telenovelas são produtos de televisão e enquanto tal, ao contrário das lendas do cinema, não merecem a (nossa) memória. Mentira. Estas mulheres e actrizes permitiram imaginar uma Hollywood falada em português. Por isso, sempre que uma desaparece, treme uma comoção silenciosa. As personagens que interpretavam, embora fechadas no televisor, podiam — se nos ouvissem — falar connosco, ali, na pequena sala. Afinal, sabiam usar as mesmas palavras, sem tradução. Mais do que o enredo e as frases — e alguns e algumas não merecem o esquecimento absoluto — foram as vozes, os gestos, os rostos e as poses que (delas) ficaram em tantas gerações de telespectadores. Fantasias portuguesas de um Brasil que, de tão distante, parecia, podia ser (mais) real. O que a geografia afastava, na ficção, a língua falada aproximava.

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