Rússia prepara-se para vacinar animais contra a covid-19

É na indústria de peles que Carnivak-Cov deve encontrar os seus primeiros clientes, porque os visons são muito sensíveis ao SARS-CoV-2. Nos EUA, outra vacina, desenvolvida para cães e gatos, está a ser considerada por zoos para proteger grandes primatas.

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Gato a ser vacinado com a Carnivak-Cov numa clínica em Moscovo VETANDLIFE.RU/REUTERS

A Rússia diz ter desenvolvido a primeira vacina contra a covid-19 para animais, que mostrou gerar anticorpos contra a infecção pelo vírus SARS-CoV-2 em cães, gatos, raposas e visões. A vacina, baptizada Carnivak-Cov, começará a ser usada em quintas de animais criados por causa do seu pêlo

Há interesse não só na Rússia como na Grécia, Polónia e Áustria, disse à Reuters a agência reguladora veterinária russa Rosselkhoznadzor. Além de países da União Europeia, também a Argentina, a Coreia do Sul e o Japão mostraram interesse, diz a BBC. Estima-se que a vacina confira uma imunidade de seis meses. A Rússia tem 3% da indústria global de peles, diz a agência Reuters. 

Outros animais têm sido ocasionalmente contagiados pelo novo coronavírus, como vários tipos de felinos e grandes primatas, sem que existam, no entanto, provas definitivas de que os animais podem transmitir os vírus aos seres humanos.

Mas vários países tiveram surtos em quintas de criação de visons, onde foram obrigados a abater os animais para controlar a doença – e há alguns indícios de que os visons transmitiram o vírus, com mutações, a seres humanos.

O maior surto numa quinta de visons foi na Dinamarca, onde foram abatidos 17 milhões de animais, no Outono de 2020 – e depois cerca de quatro milhões tiveram de ser desenterrados, no fim do ano, porque tinham sido enterrados num terreno arenoso, e eram tantos, que os cadáveres estavam a vir à superfície. Os corpos foram enviados para incineração em lixeiras. A criação de visons na Dinamarca ficou interditada, provisoriamente, até 2022.

A vacina Carnivak-CoV começou a ser testada em Outubro e, segundo disse à AFP Konstantin Savenkov, vice-director da agência Rosselkhoznadzor, deu bons resultados. “Todos os animais vacinados desenvolveram anticorpos para o coronavírus, em 100% dos casos”, afirmou.

Nas clínicas veterinárias russas onde a vacina já está disponível, nota-se que o interesse começou nos “criadores, donos de animas que viajam frequentemente, mas também em cidadãos cujos animais andam à solta”, disse Julia Melano, conselheira da Rosselkhoznadzor, citada pela agência noticiosa russa RIA e pela BBC.

Esta não é a única vacina contra a covid-19 para animais: a farmacêutica veterinária Zoetis começou a desenvolver a sua própria vacina depois de terem sido detectados os primeiros casos de infecção pelo novo coronavírus num cão em Hong Kong, em Fevereiro de 2020, diz a revista National Geographic.

A vacina da Zoetis parece ser eficaz para cães e gatos, e já em Janeiro deste ano foi usada para imunizar 14 gorilas e oito bonobos do Zoo Safari Park de San Diego (Califórnia, EUA), depois de dois gorilas terem ficado infectados (um deles, o mais velho, teve pneumonia e problemas no coração, mas sobreviveu, recebeu um tratamento de anticorpos experimental).

Vários jardins zoológicos nos Estados Unidos, aliás, estão a anunciar planos para vacinar os seus grandes primatas com esta vacina. Menos de 5000 gorilas vivem hoje em liberdade, por isso é especialmente preocupante a notícia de que o SARS-CoV-2 consegue infectar estas espécies, que são das geneticamente mais próximas dos seres humanos. Se o vírus se espalhar nesta população, pode pôr em causa a sua sobrevivência.

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