Portugal está fora da lista “verde” do Reino Unido. “Lógica não se alcança”, reage MNE

Decisão inclui Açores e Madeira e foi oficializada pelo governo britânico esta quinta-feira, entrando em vigor na terça-feira. A passagem de Portugal para a lista “âmbar” do Reino Unido faz com que seja exigida quarentena à chegada. A decisão foi justificada com o aumento de casos em Portugal e com o aparecimento de uma “mutação do Nepal”, desconhecida pela OMS.

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O Reino Unido retirou Portugal da lista "verde" de viagens
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A 17 de Maio turistas ingleses chegavam ao aeroporto de Faro Reuters/PEDRO NUNES

Começou por surgir como possibilidade durante a manhã, mas está confirmado: o Reino Unido vai retirar Portugal oficialmente da lista “verde” de destinos para viajar a partir da próxima terça-feira. A informação foi avançada esta quinta-feira por vários meios de comunicação britânicos e confirmada posteriormente pelo ministro dos Transportes britânico, Grant Shapps. A medida inclui os arquipélagos da Madeira e dos Açores. 

O Ministério dos Negócios Estrangeiros já reagiu à decisão do Governo britânico e diz tratar-se de uma “decisão cuja lógica não se alcança”. “Portugal continua a realizar o seu plano de desconfinamento, prudente e gradual, com regras claras para a segurança dos que aqui residem ou nos visitam”, escreve o ministério numa nota publicada no Twitter.

Em declarações à Sky News, o ministro britânico anunciou que Portugal passará a integrar a lista “âmbar”, um nível intermédio em que é exigida quarentena a quem regressa do país em causa. A medida, que já consta da lista oficial publicada no site do Governo britânico, surge a par de uma preocupação do governo britânico com o aparecimento de uma “mutação do Nepal na variante indiana" e com a taxa de positividade de Portugal, que “quase duplicou desde a última revisão”. 

Em resposta ao alerta da “mutação do Nepal”, a delegação nepalesa da Organização Mundial da Saúde esclareceu no Twitter que “não tem conhecimento de nenhuma variante nova do SARS-CoV-2 detectada no Nepal”, e que a variante predominante neste país é a Delta (B.1.617.2, também conhecida como “indiana”). Na reunião de peritos do Infarmed de 28 de Maio, João Paulo Gomes disse haver “necessidade de controlo rigoroso de fronteiras com a Índia, o Nepal e o Bangladesh” por causa da variante detectada na Índia. Ainda assim, no ultimo relatório do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge​ (INSA) não há qualquer referência a uma variante nepalesa.

O governo britânico não quer arriscar a reabertura a 21 de Junho, e, portanto, não foram adicionados mais destinos à lista verde, sustentou. O site oficial do governo britânico já foi actualizado e a partir das 4h da próxima terça-feira Portugal passa, assim, para a lista “âmbar”. “Se chegar a Inglaterra depois desta data, terá de cumprir as regras da lista âmbar”, lê-se na lista. O mercado de viagens de lazer britânico ficará, assim, praticamente fechado e as companhias aéreas acarretam novamente prejuízo. Em Portugal, a medida será sentida sobretudo no sector do turismo.

Decisão põe em causa “boas perspectivas” para o Verão

A imprensa britânica fala em “milhões de libras” de prejuízo para operadores de viagens e companhias aéreas, um rombo que também terá repercussões para o turismo português. Contactado pelo PÚBLICO, o Presidente da Associação de Hotéis e Empreendimentos turísticos do Algarve, Elidérico Viegas, considera que a retirada de Portugal da lista de destinos considerados seguros pelo Reino Unido “vem afectar o bom ritmo das reservas dos turistas britânicos” e põe em causa “as boas perspectivas que havia para o Verão”.

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Turista britânica chega ao Aeroporto de Faro no dia 17 de Maio, quando passaram a ser permitidas as viagens para Portugal

O Governo britânico tinha avançado que as mudanças à lista “verde” entrariam em vigor uma semana depois do anúncio, mas a medida aplica-se já a partir de terça-feira.

A decisão de retirar Portugal da lista acontece menos de três semanas depois de o Reino Unido ter autorizado viagens não-essenciais para Portugal sem necessidade de isolamento profiláctico no regresso. Com a reabertura para as viagens a 17 de Maio, Portugal assumiu-se como o único grande destino para os viajantes britânicos, reanimando as companhias aéreas e agências de viagens.

Durante o fim-de-semana passado, as ruas do Porto estiveram repletas de adeptos britânicos que vieram até Portugal assistir à final da Liga dos Campeões que opôs o Chelsea, de Londres, ao Manchester City. Ao contrário do que havia sido explicado pela organização, nem todos os adeptos viajaram até ao Porto numa “bolha”, com vários a usufruírem da ausência de quarentena obrigatória para viajarem como turistas dias antes do jogo.

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Os festejos dos adeptos ingleses na Ribeira do Porto terminaram com confrontos com a polícia

Os sectores que dependem do turismo esperava uma reabertura mais ampla este mês, mas, em vez disso, enfrentarão semanas de cancelamentos e mais incertezas. “Esta decisão essencialmente isola o Reino Unido do resto do mundo”, disse a easyJet em comunicado enviado por email à agência Reuters. A companhia aérea acrescentou que o Reino Unido ficaria para trás quando os governos de toda a Europa começarem a abrir as viagens.

Os britânicos geralmente viajam para o sul da Europa em Julho e Agosto. Dados fornecidos pela consultora analítica Cirium mostraram que a Ryanair e a easyJet tinham programado mais de 500 voos do Reino Unido para Portugal em Junho, tendo todas as companhias aéreas acrescentado voos para o país em Maio.

De acordo com o sistema de semáforo do Reino Unido, viajar para países classificados como “âmbar” ou “vermelho” não é ilegal, mas não é recomendado. Espanha, França, Itália e os Estados Unidos estão também na lista “âmbar”, o que implica cumprir uma quarentena no regresso, restringindo, assim, a demanda dos britânicos para os destinos normalmente mais populares. 

Na quarta-feira, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, alertou a indústria de viagens que proteger a distribuição da vacina no país era a prioridade. “Quero que saibam que não hesitaremos em mover os países da lista verde para a lista âmbar e para a lista vermelha, se for necessário. A prioridade é continuar a distribuição da vacina para proteger o povo deste país”, disse aos jornalistas. com José Volta e Pinto e Sónia Trigueirão