Luís quer saber como é que as pessoas trans protegem a saúde mental
Através de um inquérito online, estudante de Medicina espera conhecer os factores que “protegem as pessoas trans de ter ideação e comportamentos suicidários”, numa “sociedade ainda discriminatória”. Respostas poderão ajudar na prevenção de problemas de saúde mental.
Luís Martins começa por falar na “abordagem positiva” do estudo para o qual está a pedir a colaboração de pessoas trans. Para a sua tese de mestrado, o futuro médico quer perceber o que “protege esta população de ter pensamentos negativos e comportamentos suicidários”. Depois, o objectivo é conseguir “estimular os factores positivos” — e criar uma espécie de guia de prevenção na saúde mental e proporcionar um melhor acompanhamento pelos profissionais de saúde.
Mais susceptíveis a “discriminação, violência e falta de compaixão”, aponta, muitos trans desenvolvem “aquilo a que se chama stress minoritário sofrido” e que pode “levar a estados depressivos e falta de auto-estima”.
O estudante do 5.º ano de Medicina da Universidade de Coimbra salvaguarda a falta de estudos, particularmente sobre a realidade portuguesa das pessoas trans (quando o sexo atribuído à nascença e a auto-percepção da identidade de género não coincidem, como define a Direcção-Geral da Saúde, albergando um conjunto diversificado de pessoas). Ainda assim, cita alguns dados globais que alertam para que 55% das pessoas trans têm ideação suicida e 29% chegam mesmo a tentar o suicídio.
Num projecto paralelo ao estudo, a que chamou Transformar, o estudante de medicina vai tentar “desmistificar os temas relacionados com a identidade de género”, para através da informação diminuir os “pré-conceitos” que podem contribuir para a falta de auto-estima e sentimentos de rejeição. O grande objectivo, traça, seria “terminar com a ideia de patologia”.
No inquérito online, que demora cerca de 20 minutos a preencher, Luís Martins pergunta se “já partilhou que é uma pessoa trans”, procura perceber a forma como alguém resiste ao stress social e tenta determinar uma “escala de discriminação no dia-a-dia”.
Por agora, e por razões éticas e de recolhas de dados, explica, o estudante procura apenas respondentes com mais de 18 anos, que podem participar no inquérito até ao final de Agosto. Dependendo dos resultados, e do número de respostas, não afasta a ideia de continuar a estudar um tema que, diz, as aulas na faculdade estão longe de explorar.
“Ou temos autonomia e interesse ou não estamos minimamente preparados e sensibilizados”, acrescenta. De resto, o mesmo pode ser aplicado a “temas como a sexualidade”, como se apercebeu-se durante o estágio em Sexologia clínica, onde conheceu muitas pessoas trans. “Eu próprio tinha algumas questões, que acabavam por ser pré-conceitos, não preconceitos”, distingue.
A dificuldade em encontrar a informação que sentiu “necessidade de pesquisar” motivou o assunto escolhido para a tese de Mestrado, Factores Psicossociais Associados à Ideação Suicida na Pessoa Trans: Factores de Protecção e Vulnerabilidade, que está a desenvolver em colaboração com o Instituto de Psicologia Médica da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra.