Lady Gaga: “A pessoa que me violou deixou-me grávida numa esquina”

A artista foi abusada quando tinha 19 anos, por um produtor musical, que ameaçou queimar as suas canções. Anos mais tarde, sofreu um esgotamento, fruto do trauma.

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O incidente ocorre quando a artista tinha 19 anos REUTERS/Mario Anzuoni

Lady Gaga revelou ter sofrido um esgotamento, resultado do trauma de uma violação que resultou numa gravidez. O episódio “psicótico” aconteceu anos mais tarde. A revelação foi feita no primeiro episódio da série The Me You Can’t See, da autoria de Oprah Winfrey e do príncipe Harry, que debate o estigma à volta da saúde mental.

Stefani Germanotta — o nome verdadeiro de Lady Gaga e como se identifica neste programa — relatou que foi violada aos 19 anos por um produtor de música, que ameaçou queimar as canções da artista, se esta não se despisse. Depois, o homem terá deixado a cantora “grávida numa esquina porque estava a vomitar e doente”.

É em lágrimas que a artista recorda o que lhe aconteceu, quando era ainda uma jovem a tentar vingar no mundo da música e um produtor lhe disse “tira a roupa”. “Eu disse que não e saí, e disseram-me que iam queimar toda a minha música”, recorda, emocionada. O homem continuou a insistir e Lady Gaga conta ter “congelado” e nem se lembrar do que aconteceu depois.

Agora, aos 35 anos, garante que nunca irá revelar o nome do agressor. “Compreendo o movimento #MeToo, compreendo que algumas pessoas se sintam confortáveis em fazê-lo, mas eu não. Nunca mais quero ter de encarar aquela pessoa”, confessa a estrela.

“Não conseguia sentir o meu próprio corpo”

Não é a primeira vez que Lady Gaga fala sobre a violação. Em 2014, admitiu-o publicamente e, desde então, a agressão foi também tema de canções, como Swine ou ‘Till it happens to you — banda sonora de um documentário sobre o assédio sexual nas universidades norte-americanas, The Hunting Ground, nomeado para um Óscar em 2016.

O esgotamento aconteceu anos mais tarde, quando a artista teve um “episódio psicótico” e entrou num “estado de paranóia”, como resultado do trauma vivido. Tudo começou quando foi admitida no hospital como dores agudas e dormência, e, surpreendentemente, segundo a própria, a mandaram para um psiquiatra. “Não conseguia sentir o meu próprio corpo. Primeiro, senti dores, a seguir tonturas, e, depois, fiquei doente durante semanas”, recorda.

Foi então que compreendeu a origem da dor: “Percebi que era a mesma dor que senti quando a pessoa que me violou me deixou grávida numa esquina, na casa dos meus pais, porque eu estava a vomitar e doente. Porque eu estava a ser abusada, e estava trancada num estúdio há vários meses”. O trauma, garante, mudou-a enquanto pessoa, e nunca a irá deixar, e a dor que sente é a mesma que sentia depois de ter sido violada. “Já fiz tantas ressonâncias magnéticas e exames, e não encontram nada. Mas o corpo lembra-se”, lamenta.

Demorou dois anos e meio a recuperar do esgotamento — que atravessava quando, em 2018, protagonizou o êxito Assim Nasce Uma Estrela. E, apesar de se encontrar bem, garante que basta “ser puxado o gatilho uma vez” para ter uma recaída e voltar à dor física e emocional. O testemunho de Lady Gaga termina, ainda assim, com uma mensagem de esperança. Depois de vários anos de esforço, a artista aprendeu “todas as formas” de sair do estado de depressivo. “Então tudo começou lentamente a mudar”, conclui.

Lady Gaga foi uma das convidadas do primeiro episódio da série The Me You Can’t See, conduzida pelo príncipe Harry e Oprah Winfrey, na Apple TV+. A actriz Glenn Close, a boxeadora olímpica Virgina Fuchs e o chef Rashad Armstead são outros dos convidados do projecto.

A saúde mental tem sido uma das principais áreas de acção do duque do Sussex, que tem, aliás, um lugar na direcção da BetterUp, empresa de coaching profissional, aconselhamento e mentoria. Na entrevista de Harry e Meghan a Oprah, a temática foi também um dos pontos centrais da conversa, tendo o casal se mostrado extremamente sensível ao tema. Meghan confessou ter inclusive duvidado da sua capacidade de viver; Harry desabafou que se sentiu incapaz de a ajudar por também estar “num sítio muito escuro”.

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