Israel diz que ataques em Gaza vão continuar “com força total”

Pressões para o fim da violência começam a fazer-se sentir, mas um cessar-fogo ainda estará longe. Pior ataque de Israel mata dezenas de pessoas em dia de debate no Conselho de Segurança da ONU.

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Pelo menos 42 palestinianos, incluindo várias crianças, morreram no bombardeamento no bairro Al-Rimal MOHAMMED SALEM/Reuters
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Tanques israelitas numa zona junto à fronteira com a Faixa de Gaza BAZ RATNER/Reuters

De Nova Iorque, Amã ou Doha chegam declarações sobre a multiplicação de esforços diplomáticos, mas em Gaza, ao cair da noite, o ambiente era uma vez mais de terror. Na madrugada anterior, o pior ataque das forças israelitas desde o início da actual operação, há uma semana, matou pelo menos 42 palestinianos e arrasou três edifícios residenciais. Em declarações quase coincidentes com a reunião do Conselho de Segurança da ONU, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, afirmou que os ataques vão “levar tempo” e com “força total”.

No arranque da reunião da ONU, o secretário-geral, António Guterres, descreveu as hostilidades em Gaza e em Israel como “completamente chocantes” e pediu o fim imediato da pior violência na região desde a guerra de 2014, quando mais de dois mil palestinianos foram mortos no enclave. O encontro terminou sem a divulgação de qualquer comunicado conjunto e, segundo a imprensa israelita, os Estados Unidos não chegaram a pressionar Israel para um cessar-fogo, nem em Nova Iorque nem no terreno.

“Neste momento, os EUA não têm um pedido inequívoco para um cessar-fogo imediato nem calendários para um cessar-fogo.” Foi assim que responsáveis israelitas resumiram ao jornalista Amichai Stein, da televisão pública, a mensagem de Hady Amr, o enviado de Washington que passou o fim-de-semana em Israel. “Com os EUA aparentemente indiferentes, o Egipto é a melhor aposta para acabar com a crise em Gaza”, escreveu o diário israelita Ha’aretz.

Egipto e Qatar têm liderado os esforços diplomáticos junto de Israel e do Hamas, o movimento palestiniano que governa Gaza e que todos os dias tem lançado rockets contra cidades israelitas. O rei Abdullah da Jordânia, país que é guardião oficial dos locais santos muçulmanos e cristãos em Jerusalém, afirmou que a monarquia está envolvida em “diplomacia intensa” para pôr fim ao que descreve como “escalada militar israelita”.

Os primeiros rockets foram disparados precisamente contra Jerusalém, justificando o início da ofensiva israelita. Mas nos dias anteriores, Israel expulsara violentamente manifestantes e fiéis palestinianos da Mesquita Al-Aqsa, no que Amã chamara “ataques bárbaros”. Às orações das últimas noites do Ramadão seguiram-se nesses dias manifestações em solidariedade com palestinianos que Israel se preparava para despejar das suas casas em Jerusalém Oriental – colonos judeus tinham reivindicado o seu direito a essas casas nos tribunais israelitas, que de acordo com a lei internacional não têm autoridade sobre a população dos territórios que Israel ocupa.

Agora, escreve o Ha’aretz, os mediadores enfrentam “um desafio intimidante: conseguir que tanto Israel como o Hamas mostrem alguma flexibilidade em relação a Jerusalém”.

Para já, escreve o mesmo diário, o Exército israelita “recomenda mais ataques em Gaza antes do início do processo de negociações”, e tem “mais algumas tentativas de assassínio de responsáveis do Hamas” em vista. Apesar de Israel insistir no carácter militar dos seus alvos, são poucas as notícias sobre alvos específicos – este domingo foi destruída a casa do principal líder do Hamas entre os que se sabe estarem em Gaza, Yehya al-Sinwar.

Segundo as forças israelitas, o bombardeamento que arrasou os prédios do bairro Al-Rimal, na Cidade de Gaza, matando dezenas de civis incluindo várias crianças pequenasvisava um sistema de túneis usado pelo Hamas por baixo de uma estrada. “O colapso das instalações militares subterrâneas fez com que as fundações das casas civis à superfície também cedessem, provocando as baixas indesejadas”, lê-se num comunicado.

Até aqui, os muitos ataques contra edifícios de habitação, casas em campos de refugiados, escolas da ONU ou o arranha-céus onde funcionavam as instalações da Al-Jazeera e da AP foram explicados de forma mais genérica, com informações de que eram, de alguma forma, usadas pelo Hamas.

Na última semana, os ataques contra Gaza já mataram pelo menos 192 palestinianos, enquanto os rockets do Hamas deixaram dez israelitas mortos.

Na Faixa de Gaza, para além de não terem onde se esconder das bombas, os dois milhões de habitantes preparam-se para enfrentar condições ainda piores do que as habituais, com mais falta de electricidade (quase metade da rede está em baixo), de água (muitos canos destruídos), combustível ou alimentos, já que Israel cortou por completo o acesso ao território.

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