Conservadores ganham terreno no Irão a um mês das presidenciais

O poderoso Conselho dos Guardiões fechou a porta a candidatos com menos de 40 anos, deixando de fora um dos nomes mais fortes no campo moderado. Sucessão de Hassan Rohani acontece numa fase dramática da economia iraniana.

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Hassan Rohani está de saída ao fim de oito anos no cargo Reuters/Brendan McDermid

A pouco mais de um mês da eleição presidencial no Irão, num país assolado por uma nova vaga da pandemia de covid-19 e sem grandes esperanças de se livrar das pesadas sanções económicas dos EUA, o campo dos conservadores próximos do ayatollah Ali Khamenei parece estar mais perto de apresentar um forte candidato à sucessão do moderado Hassan Rohani.

O período de cinco dias para a inscrição de candidaturas, que começou esta terça-feira e termina no sábado, fica marcado pela interdição de candidatos com menos de 40 anos e mais de 75 anos. 

A decisão do Conselho dos Guardiões – o poderoso grupo de clérigos e juristas que decide a validade das candidaturas – é tida como uma forma de dificultar ainda mais o aparecimento de nomes fortes na área moderada.

Um deles é o ministro das Comunicações e da Tecnologia, Mohammad Javad Azari Jahromi, que tem 39 anos. Em teoria, Jahromi pode inscrever o seu nome na lista de candidatos, mas é quase certo que a sua candidatura seria vetada – dos 12 membros do Conselho dos Guardiões, seis são nomeados directamente pelo ayatollah Ali Khamenei e os outros seis são escolhidos pelo chefe do poder judiciário, também ele nomeado pelo líder supremo.

Um dos possíveis candidatos na área conservadora é precisamente o actual chefe do poder judiciário, Ebrahim Raisi, de 60 anos, figura influente no país e visto como possível sucessor do ayatollah Ali Khamanei, de 82 anos. 

De acordo com o jornal britânico The Guardian, a eventual candidatura de Raisi levaria outros conservadores, como Ali Larijani e Saeed Jalili, a recuar e a apoiarem a sua eleição.

Ebrahim Raisi concorreu em 2017, quando Hassan Rohani se candidatou a um segundo mandato, e foi derrotado de forma clara (57% contra 38%).

O ainda Presidente do Irão atinge o limite de oito anos no cargo e não pode voltar a candidatar-se. Esta terça-feira, Hassan Rohani criticou a nova restrição imposta pelo Conselho dos Guardiões, e ordenou ao ministro do Interior que não exclua ninguém. Mas, mesmo que isso aconteça, a última palavra sobre quem poderá fazer campanha eleitoral cabe ao poderoso conselho.

Em resposta a Hassan Rohani, um dos membros do Conselho dos Guardiões, Siamak Raphik, recordou que o conselho é “o único guardião da elegibilidade de candidatos”.

“A coesão é vital para qualquer país, e as eleições são uma fonte de coesão e de autoridade no país”, disse Raphik.

O segundo mandato de Hassan Rohani fica marcado pelo afastamento dos EUA do acordo internacional sobre o programa nuclear iraniano, em Maio de 2018. Com o regresso das pesadas sanções norte-americanas, a economia do país começou a afundar-se e agora sofre também com as consequências da pandemia de covid-19.

Um entendimento nas negociações que estão a decorrer em Viena, na Áustria, para o regresso dos EUA e do Irão ao acordo internacional sobre o programa nuclear, seria uma lufada de ar fresco para o campo moderado. 

Mas nada indica que isso esteja prestes a acontecer, e o clima de desesperança no país reflecte-se nas sondagens sobre a participação eleitoral. Segundo a agência de notícias Associated Press, estima-se que a eleição de 18 de Junho fique aquém dos 40% de afluência, muito abaixo dos 73% registados há quatro anos.

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