Ulrike Ottinger será a homenageada do Doclisboa 2021
Festival regressa à fórmula tradicional em sala de 21 a 31 de Outubro com uma retrospectiva que se pretende integral de uma das figuras grandes das artes contemporâneas alemãs.
A sessão de encerramento da 18.º Doclisboa, que decorreu esta tarde na Culturgest, serviu também para aguçar o apetite para a próxima edição do festival. A exibição do documentário autobiográfico de Ulrike Ottinger Paris Calligrammes – filme escolhido há quase um ano para a encerrar a edição 2020 do festival, que acabaria, pandemia oblige, por se dividir por vários módulos – coincidiu com a revelação de que aquela artista alemã será o foco da retrospectiva do 19.º Doclisboa, que terá lugar de 21 a 31 de Outubro próximos.
A direcção formada por Joana Gusmão, Joana Sousa e Miguel Ribeiro confirmou também que a próxima edição decorrerá nas datas e no formato a que o festival de cinema do real nos habituou – ou seja, presencialmente, nas salas, durante 11 dias.
Pintora, escritora, fotógrafa, cineasta, Ulrike Ottinger (Konstanz, 1942) é uma das mais fascinantes figuras das artes contemporâneas alemãs do pós-Segunda Guerra Mundial, autora de uma obra verdadeiramente transgénero na sua conjugação de alta e baixa cultura, de vanguardismo e História. Estudante de arte na Paris dos anos 1960 – memórias que explora abertamente em Paris Calligrammes, o seu mais recente trabalho –, Ottinger criou um lugar sui generis no fervilhante Novo Cinema Alemão dos anos 1970, mais próxima de realizadores transgressivos como Werner Schroeter ou Christoph Schlingensief, e trabalhando regularmente com nomes como o compositor Peer Raben ou as actrizes Magdalena Montezuma ou Delphine Seyrig.
A retrospectiva dedicada à cineasta será comissariada pelo crítico russo Boris Nelepo, pretendendo mostrar a integral dos seus 26 trabalhos para cinema, que lhe valeram em 2020 o prémio de carreira do Festival de Berlim. O ciclo irá ser acompanhado por uma exposição de fotografias de Ottinger, a decorrer em paralelo no Museu do Oriente ao abrigo do programa transdisciplinar Passagens.
Até Outubro, no entanto, o Doclisboa levará ainda a cabo dois mini-ciclos que deveriam ter sido integrados na atribulada 18.ª edição, prevista para ter lugar presencialmente entre Outubro e Março mas que sofreu inúmeras alterações devido à segunda vaga da pandemia de covid-19 que “fechou” Portugal entre Janeiro e Abril. Assim, o Cinema Ideal recebe de 27 de Maio a 2 de Junho o ciclo Origens – Práticas e Tradições no Cinema, enquanto o programa com curadoria da associação SOS Racismo, O Cinema para uma Luta Anti-Racista, terá finalmente lugar no Padrão dos Descobrimentos de 19 a 25 de Julho.
Na cerimónia de encerramento, o festival anunciou ainda o único prémio atribuído na edição 2020, o Prémio Fernando Lopes para Melhor Primeiro Filme Português, que coube à curta-metragem de Eduardo Saraiva 42.ZE.66, sobre o quotidiano de uma camionista portuguesa.