Secretário de Estado chama “estrume” e “coisa asquerosa” a programa de informação da RTP

Direcção de Informação da RTP repudia declarações de João Galamba. CDS pede demissão do secretário de Estado por ataque ao programa Sexta às Nove. Secretário de Estado e Sindicato de Jornalistas em silêncio.

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João Galamba está em silêncio sobre o comentário que fez no Twitter Nuno Ferreira Santos/Arquivo

A direcção de Informação da RTP “repudia as declarações expressas pelo secretário de Estado Adjunto e da Energia João Galamba”, que comparou o programa Sexta às Nove “a estrume” e “coisa asquerosa”. “As palavras que proferiu atentam contra o bom-nome da RTP e da sua jornalista Sandra Felgueiras e desrespeitam a liberdade de informação”, considera a estação pública.

Em resposta ao PÚBLICO, a estação pública diz ainda que “vindas da parte de um membro do Governo [as declarações] assumem particular gravidade. Mas nem por isso condicionarão o trabalho dos jornalistas da RTP”.

Em causa está uma mensagem do secretário de Estado Adjunto e da Energia na rede social Twitter publicado no sábado, e entretanto apagada, dizendo que “estrume só mesmo essa coisa asquerosa que quer ser considerada um programa de informação”.

O comentário de Galamba era dirigido ao programa Sexta às Nove, na estação pública de televisão e conduzido pela jornalista Sandra Felgueiras, no qual o secretário de Estado já tinha sido visado. As palavras de Galamba foram escritas num comentário na rede social, respondendo a um utilizador que partilhou o link do programa (sobre a instalação de imigrantes do empreendimento Zmar), acrescentando a seguinte mensagem: “Todas as semanas abro uma garrafinha do @Joaogalamba e sento-me a ver o estrume por ele produzido”.

Seguiu-se a resposta de Galamba na mesma rede social: “Lamento, estrume só mesmo essa coisa asquerosa que quer ser considerada ‘um programa de informação’. Mas se gosta desse caso psicanalítico em busca da sua expiação moral, bom proveito.” 

O PÚBLICO tentou, sem sucesso, contactar João Galamba, e também o Sindicato dos Jornalistas, que ainda não reagiu às palavras do governante.

O comentário levou o líder do CDS-PP, Francisco Rodrigues dos Santos, a pedir este domingo a demissão do secretário de Estado João Galamba, acusando-os de “indignidade institucional”.

A primeira reacção política vem em forma de apelo ao primeiro-ministro, para que demita o ministro da Administração Interna e o secretário de Estado João Galamba, no que seria “um duplo jackpot” que António Costa dava ao país. “Porque eu tenho a certeza de que não se revê nestas faltas de educação e na indignidade institucional que estes membros do Governo estão a revelar”, afirmou, na sessão de encerramento do congresso regional do CDS-PP/Açores, em Angra do Heroísmo, citado pela Lusa.

Sobre João Galamba, o líder do CDS acusa-o de ter atacado “de forma ordinária” um canal de televisão: “João Galamba, qual hater, tornou-se um ‘cowboy’ do teclado no seu Twitter. Se há uns anos avisava, por SMS, um ex-primeiro-ministro de um processo judicial, agora destila ódio constantemente nas suas redes sociais”. Acrescentando ainda que “um secretário de Estado que não percebe que sem jornalismo, mesmo que incómodo, não há democracia é um secretário de Estado que está a mais e tem de sair imediatamente deste Governo”.

Ainda numa recente entrevista (na semana passada) ao Diário de Notícias, Jornal de Notícias e TSF, o primeiro-ministro, António Costa, lembrava que não se deve “desenvolver ódio relativamente à comunicação social” e “odiar jornalistas”, numa alusão à atitude do líder do PSD, Rui Rio. “Um político num regime democrático pode até não gostar muito das coisas que os senhores escrevem – eu muitas vezes não gosto –, mas temos de respeitar e não temos de desenvolver ódio relativamente à comunicação social”, explicou Costa.

O líder centrista também reagiu às acusações de Eduardo Cabrita de que o CDS-PP é um “náufrago”, alegando que o ministro “colecciona casos que o vão desacreditando, que são uma mancha para o país e que dão mau nome a este Governo”.

Notícia actualizada às 19h com a reacção da direcção de Informação da RTP

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