Lucro dos CTT mais do que duplicou no primeiro trimestre com ajuda das encomendas

Correio expresso e encomendas atingiram “um valor recorde de 63,4 milhões de euros”. Acções iniciaram sessão com valorização superior a 4%.

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Nuno Ferreira Monteiro

O lucro dos CTT mais do que duplicou (163%) no primeiro trimestre, face a igual período de 2020, para 8,7 milhões de euros, anunciaram os Correios de Portugal. Nos primeiros três meses do ano passado, o resultado líquido tinha ascendido a 3,7 milhões de euros.

O crescimento dos resultados foi bem recebido pelo mercado, com as acções dos CTT a iniciaram a sessão desta sexta-feira na bolsa de Lisboa com uma subida acima de 4%.

Recentemente, os CTT reclamaram uma compensação do Estado pelo facto de o Governo ter decidido “prolongar unilateralmente”, até ao final deste ano, um contrato de concessão de serviço público postal “que não faz sentido, não é sustentável, nem economicamente interessante”. 

Na apresentação enviada à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), os CTT indicam que as receitas subiram 14,1% para 205,3 milhões de euros e o resultado antes de impostos, juros, depreciações e amortizações (EBITDA) progrediu 22,3% para 29,1 milhões de euros.

“Estando a área de negócio de correio impactada estruturalmente pela tendência de queda do tráfego como resultado dos processos de digitalização e alterações de consumo, e pelos efeitos do confinamento geral, em especial no mês de Janeiro (dado que o referido confinamento se iniciou em meados de Janeiro e percorreu a totalidade do trimestre), a performance dos rendimentos mostra uma recuperação consistente iniciada” após o segundo trimestre de 2020, referem os CTT num outro comunicado.

Os rendimentos operacionais do expresso e encomendas atingiram “um valor recorde de 63,4 milhões de euros”, mais 70,1% que no primeiro trimestre de 2020 (uma subida de 26,1 milhões de euros).

No mercado ibérico, os rendimentos atingiram 62,7 milhões de euros, uma subida de 71,1%, e em Portugal ascenderam a 31,1 milhões de euros, mais 43,8%.

“Os efeitos das restrições em virtude da pandemia de covid-19 mantiveram um forte impacto no perfil de envios, verificando-se uma redução do tráfego B2B e, em contraponto, um grande crescimento da actividade de ecommerce (B2C), com um aumento muito relevante nos sectores da alimentação, desporto e lazer, educação e cultura e electrónica de consumo. Os negócios da carga e da banca foram os que sofreram maior impacto com as restrições”, lê-se no comunicado.

No trimestre em análise, os rendimentos operacionais do correio caíram 1,5% para 107,8 milhões de euros. Esta redução, referem os CTT, resulta “fundamentalmente do correio transaccional”, que caiu 2,5% para 2,4 milhões de euros.

No entanto, “a receita do primeiro trimestre beneficiou da maior contribuição dos produtos de maior valor unitário, assistindo-se a uma menor dependência do correio normal cujo peso na receita passa de 37% (primeiro trimestre de 2020) para 33% (primeiro trimestre de 2021) e a uma maior importância do correio registado e internacional de chegada, cujo peso na receita cresce de 35% para 38%”.

O tráfego do correio transaccional registou “um decréscimo (-15,2%) devido às quedas na maioria dos produtos, com excepção do correio verde (+30,8%)”.

A queda do tráfego de correio normal nacional foi de 18,0%, “continuando os clientes contratuais dos sectores da banca e seguros a ter a maior contribuição para esta evolução”, referem os CTT.

“O efeito pandémico continuou a provocar um estrangulamento ao nível da rede logística internacional aérea, influenciando negativamente os volumes de tráfego do correio internacional, e também o custo deste tipo de transporte”, apontam, salientando que o decréscimo no trimestre em análise no correio internacional de saída “foi de 9,0%, tendo o correio internacional de chegada apresentado uma descida de 7,2%”.

Apesar da quebra do tráfego, “a alteração do perfil dos objectos em conjugação com o aumento do tarifário, sobretudo no correio internacional de chegada, permitiu um crescimento dos rendimentos”.

Os rendimentos em Espanha mais que duplicaram para 27,6 milhões de euros.

Aposta crescente no digital

Em declarações à Lusa, o presidente executivo dos CTT afirmou que o resultado no primeiro trimestre prova que os Correios de Portugal “têm um caminho de crescimento à sua frente”, mesmo com o correio em declínio.

“O Banco CTT, até porque anunciou há dias a sua nova parceria com a Sonae, tem ali mais uma área de crescimento no crédito ao consumo, temos outras coisas no banco em gestação que acho que vão permitir executar uma história”, afirmou João Bento.

Salientou ainda que “tudo o que é a oferta na área do digital e no apoio ao desenvolvimento do comércio electrónico vai continuar a ser muito importante” e a ser uma aposta.

O marketplace Dott - que resulta de uma parceria entre os CTT e a Sonae (dona do PÚBLICO) – terminou o trimestre com mais de 2000 lojas online registadas e das quais mais de 700 já estão a vender.

Entretanto, os CTT já reabriram 29 das 33 lojas fechadas. Questionado sobre as restantes quatro, o presidente executivo disse que não há datas, “mas a previsão é abri-las o mais depressa possível”.

Em 31 de Março de 2021 o número de trabalhadores dos CTT (efectivos do quadro e contratados a termo) era de 12.096, mais 86 (mais 0,7%) do que em 31 de Março de 2020.