UE pondera missão em Moçambique como a que tem no Sahel

Josep Borrell, Alto Representante para a Política Externa e de Segurança, diz que a União Europeia vai responder ao pedido de auxílio do governo moçambicano.

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Deslocados da vila de Palma aguardam por auxílio em Pemba LUIS MIGUEL FONSECA/EPA

A União Europeia vai tentar enviar para Moçambique uma missão de apoio à formação militar semelhante àquela que tem no Sahel, afirmou esta quinta-feira em Bruxelas o chefe da diplomacia europeia, assumindo crescente preocupação com a situação em Cabo Delgado.

Em declarações à entrada para um Conselho de Negócios Estrangeiros na vertente Defesa, o Alto Representante da UE para a Política Externa e de Segurança, Josep Borrell, ao antecipar os assuntos em discussão entre os ministros da Defesa dos 27, apontou que será dada particular atenção “ao que se passa na fronteira entre a Ucrânia e a Rússia”, à “situação no Sahel, que não está a melhorar”, e também “outra questão, cada vez mais preocupante, que é Moçambique”.

“O Governo moçambicano tem pedido auxílio. Tentaremos enviar uma missão de formação [da UE], como aquela que temos no Sahel, de modo a conter a situação de segurança em Moçambique”, declarou Borrell.

Apontando que o principal ponto em agenda na reunião de ministros da Defesa – na qual Portugal é representado pelo ministro João Gomes Cravinho – é a chamada Bússola Estratégica, o Alto Representante apontou que a discussão centrar-se-á na gestão de crises e em como melhorar a eficácia das missões e operações da UE em diferentes palcos, voltando então a abordar a questão de Moçambique.

“O Sahel é um caso, agora estamos a estudar a possibilidade de alargar a Moçambique”, disse, acrescentando que a Bússola Estratégica é a forma como os 27 estão a procurar “reunir um entendimento comum dos desafios que os europeus estão a enfrentar”.

“Acreditem, estes desafios estão a aumentar e a piorar. É por isso que hoje vamos ter um Conselho de ministros da Defesa muito importante”, concluiu, nas suas declarações à entrada para a reunião.

Numa reunião de chefes de diplomacia da UE realizada em 19 de Abril em Bruxelas, o ministro dos Negócios Estrangeiros português considerou “absolutamente essencial” e “absolutamente urgente” o “reforço da componente de paz e de segurança” na relação UE-Moçambique, após uma reunião com os seus homólogos europeus.

“O reforço da componente de paz e segurança na cooperação bilateral entre a União Europeia (UE) e Moçambique é absolutamente essencial e é absolutamente urgente”, frisou na altura Augusto Santos Silva.

Sublinhando que a política externa da UE se “faz em três dimensões complementares” – a “cooperação para o desenvolvimento, acção humanitária e cooperação em matéria de paz e de segurança” –, Augusto Santos Silva sublinhou que as duas primeiras dimensões “já estão em curso”, mas o seu incremento “exige condições de segurança indispensáveis”.

Nesse sentido, o chefe da diplomacia portuguesa afirmou que, durante a reunião, Josep Borrell “suscitou” a questão do processo de decisão uma missão de apoio à formação militar em Moçambique, que originou uma “discussão política”, sublinhando que “nunca esteve em questão, nem está em questão, a presença de tropas estrangeiras em território moçambicano para efeito de combate às redes terroristas que operam, infelizmente, em Cabo Delgado”.

“Sempre esteve, e está em questão, a possibilidade de se materializar esse incremento da cooperação na área da segurança através de uma missão não executiva dirigida a formação e treino militar de tropas especiais moçambicanas”, sublinhou.

Grupos armados aterrorizam Cabo Delgado desde 2017, numa onda de violência que já provocou mais de 2.500 mortes, segundo o projecto de registo de conflitos ACLED, e 714.000 deslocados, de acordo com o Governo moçambicano. O mais recente ataque foi feito em 24 de Março contra a vila de Palma, provocando dezenas de mortos e feridos, num balanço ainda em curso.

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