Não fiz de propósito. Os filmes são ambos de 1972. E no princípio era o sobretudo. As imagens iniciais de La prima notte di quiete, de Valerio Zurlini, e de Ultimo tango a Parigi, de Bernardo Bertolucci, mostram-nos homens que caminham sozinhos, em Rimini no Inverno e em Paris, e que envergam idênticos sobretudos castanhos, adereço que colocado em cima das figuras abatidas e desgrenhadas, são um peso extra que dá conta do seu mal de viver, da sua crise existencial adulta. A imagem de Alain Delon (Daniele) no filme de Zurlini, reenviou-me para o Paul (Marlon Brando) filmado por Bertolucci. Aquilo que aproxima os dois filmes, aparentemente tão distintos, são os retratos destes homens, destes mortos-vivos num caminho de autodestruição, que se liga ao seu passado, mas também ao desajustamento que sentem face ao mundo em redor. As bandas-sonoras de Mario Nascimbene (“quiete”) e de Gato Barbieri (“tango”), presentes desde as primeiras imagens, dão a escutar sons lancinantes que são gritos de dor que antecipam a caracterização das personagens que se fará com elementos diegéticos.
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