Família real despede-se com recato do príncipe Filipe
Mais do que uma homenagem ao príncipe consorte do Reino Unido, Windsor recebeu, este sábado, o funeral de um marido, pai, avô e bisavô.
Solenidade com recato. Era assim que Filipe Mountbatten pretendia que se realizasse o seu funeral, que o próprio tratou de programar até ao mais ínfimo detalhe – até as músicas tocadas (I vow to thee my country, Jerusalem e Nimrod, entre outras) foram escolhidas pelo duque de Edimburgo. E a última vontade daquele que mais anos cumpriu como príncipe consorte foi cumprida à risca, sobretudo pelo facto de o seu planeamento ter sido adaptado às regras sanitárias criadas para controlar o surto de covid-19, doença que, no Reino Unido, está associada a mais de 127.500 óbitos.
No entanto, apesar de ter sido sobretudo um momento da família (até pelo facto de só poderem estar presentes 30 pessoas, as mais próximas de Filipe, como filhos e netos), a ocasião foi delineada também para celebrar a sua longa vida, o seu passado ligado à Marinha e até os seus prazeres: a sua paixão pela condução de carruagens foi lembrada pela presença da carruagem que o próprio ajudou a construir, puxada pelos seus dois póneis: Balmoral Nevis e Notlaw Storm, ambos da raça ameaçada de Fell, nascidos em 2008. Naquele que seria o seu lugar, foi colocado o seu boné e as suas luvas.
Já a ligação de Filipe à Marinha foi homenageada pela presença do seu chapéu e espada em cima do caixão, coberto com a bandeira, com o brasão dinamarquês, a cruz grega, o Castelo de Edimburgo e as insígnias da família Mountbatten. No topo, era visível uma grinalda de rosas brancas, lírios e jasmins, escolhida pela rainha que, como era esperado, se sentou sozinha para a cerimónia fúnebre que decorreu na Capela de São Jorge, no Castelo de Windsor, após o minuto que silenciou o país, quando o caixão se encontrava a meio da escadaria da capela.
Isabel II, vestida de preto e com uma máscara negra, ficou sozinha quando o seu companheiro dos últimos 73 anos foi levado para o Jazigo Real. Uma imagem que terá a solidariedade de muitos britânicos, segundo considerou a correspondente real da Vanity Fair, Katie Nicholl, citada pela BBC: “Não há humanidade na covid; muitas famílias terão passado por isto.” E acrescentou: “Foi bastante desolador vê-la ali sentada sozinha. Foi uma imagem muito sombria e penso que, hoje, todos irão reflectir sobre a mesma.”
Certo é que a morte de Filipe abre um vazio na vida de Isabel como mulher e como rainha, que chegou a descrevê-lo como a sua “força e estabilidade”. É que, apesar do duque de Edimburgo ter conseguido, ao longo de 73 anos, viver dois passos atrás da mulher, eram reconhecidos os seus esforços para ajudar a monarca a ultrapassar as crises que o seu reinado, iniciado em 1953, teve de enfrentar, sobretudo no que diz respeito à perda de importância daquela que chegou a ser a família real mais proeminente do mundo.
O arcebispo da Cantuária, Justin Welby, elogiou a “vida ao serviço da nação e da Commonwealth”, enaltecendo a coragem e inspiração da liderança de Filipe.
Unidos, mas desavindos?
Aos 94 anos (faz 95 na quarta-feira), Isabel II vê-se no papel de enfrentar uma dura crise familiar sem o marido, com as acusações de racismo e negligência que o neto Harry e a mulher Meghan teceram à coroa.
As atenções, aliás, estiveram focadas em Harry – que se apresentou sozinho por a mulher, grávida, ter sido desaconselhada pelos médicos a realizar uma viagem de longo curso – e nos pequenos sinais que a restante família poderia dar naquele que foi o primeiro momento público do filho mais novo de Carlos após a entrevista que deu a Oprah. Sobretudo da parte do irmão William, depois de Meghan ter tecido insinuações sobre o carácter da mulher deste e depois de Harry ter considerado que tanto o pai como o irmão estavam encurralados no sistema, confidenciando que o primeiro não lhe atendia o telefone e que o segundo teria escolhido um caminho diferente do seu.
Terá sido por causa de Harry (e também do tio, André, associado ao escândalo Epstein) que nenhum dos participantes, ao contrário da tradição, vestiu uniformes militares, uma forma que a monarca terá encontrado para evitar o debate sobre o facto de o duque de Sussex, que cumpriu duas missões no Afeganistão, não poder usar a farda após Isabel II lhe ter exigido que devolvesse os títulos militares honorários, no rescaldo do seu afastamento dos deveres reais.
Tanto William como Harry seguiram a pé o cortejo fúnebre, atrás dos quatro filhos de Filipe: Carlos e Ana, os mais velhos, à frente, seguidos por André e Eduardo. E, tal como ocorreu no cortejo de Diana, os irmãos contaram com uma presença a meio. Só que, em vez de terem um suporte na figura do tio materno, contaram com o primo Peter Phillips, filho da princesa Ana, como uma espécie de escudo. Porém, após a cerimónia, Harry juntou-se a William e a Kate na caminhada de regresso ao castelo, trocando palavras com ambos. O teor da conversa é desconhecido, mas o momento foi assinalado com optimismo pelos media britânicos que anseiam por uma reconciliação.