A pandemia mantém os dadores de esperma longe das clínicas suecas

Escassez de esperma resulta em suspensão das inseminações e aumento dos tempos de espera. “É um fenómeno nacional”, sublinha médica.

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A Suécia enfrenta uma escassez acentuada de esperma. Devido à pandemia, os possíveis dadores têm evitado os hospitais, o que resulta numa suspensão das inseminaçõese num aumento dos tempos de espera, que se podem estender agora a anos.

“Estamos a ficar sem esperma. Nunca tivemos tão poucos dadores como no ano passado”, informa Ann Thurin Kjellberg, chefe da unidade de reprodução do Hospital Universitário Sahlgrenska, em Gotemburgo. De acordo com médicos especialistas nesta área, em 2020 esta escassez resultou numa subida do tempo de espera para quem queira engravidar recorrendo a bancos de esperma de seis meses para uma estimativa de 30, possivelmente até mais.

“É stressante que não consigamos obter uma hora ou data certa para o tratamento”, desabafa Elin Bergsten, uma professora de matemática, de 28 anos, do Sul da Suécia. Há dois anos, quando Bergsten e o seu marido descobriram que este não conseguia produzir sémen, entraram na lista de espera. A professora deveria ter feito o seu segundo ciclo de inseminação não tivesse o tratamento sido adiado indefinidamente devido à situação actual de escassez. “É um fenómeno nacional”, refere a médica Ann Thurin Kjellberg. “Esgotámos em Gotemburgo e Malmo, em breve vai esgotar em Estocolmo”, acrescenta, nomeando as três áreas mais populosas do país.

Apesar de haver clínicas privadas na Suécia que conseguem contornar esta falta através da compra de esperma no estrangeiro. No entanto, o tratamento pode custar até 100.000 coroas suecas (cerca de 9800 euros), tornando-se incomportável para muitas pessoas. Já através do Serviço Nacional de Saúde o tratamento é gratuito.

De acordo com a Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia (ESHRE), os países nórdicos e a Bélgica têm as maiores taxas de concepção assistida do mundo, no que concerne a disponibilidade de ciclos por milhão de habitantes. No entanto, segundo a lei sueca, uma amostra de esperma só pode ser utilizada por um máximo de seis mulheres. A maioria dos espermatozóides doados na Suécia atingiu esta capacidade legal, o que significa que, neste momento, em muitas áreas, a gravidez assistida só está disponível para mulheres que já tenham utilizado uma amostra específica de espermatozóides antes.

Como explica Margareta Kitlinski, directora da unidade de reprodução no Hospital Universitário da Escânia, a maior clínica deste tipo na Suécia, são necessários cerca de oito meses para processar um dador devido aos muitos testes envolvidos, e muitas amostras não se tornam donativos viáveis devido a problemas comuns de congelamento. “Se tiver 50 homens em contacto consigo, na melhor das hipóteses apenas metade deles poderia ser dador”, esclarece a médica.

Devido a esta situação, algumas regiões do país foram para as redes sociais encorajar potenciais dadores masculinos, com resultados variáveis, no entanto. Enquanto isso, a escassez persiste. “Precisamos de ir à televisão e dizer aos homens suecos para se chegarem à frente”, conclui Ann Thurin Kjellberg.