Um artista, uma receita, uma playlist. Com este “extravagante” livro de culinária, cozinhar não volta a ser o mesmo
A Discos Extendes lançou um livro de culinária para apimentar as tardes na cozinha e propõe uma viagem musical, do heavy metal ao funk tailandês. “Interessa-nos fazer algo mais fora da caixa, extravagante.”
Para cada receita, uma playlist. Uma sopa portuguesa joga bem com Lena d’Água, Amália Rodrigues ou Dora, com o tema Não sejas mau p’ra mim. Já um bolo de chocolate, receita do DJ Snake Radical, sairá do forno mais doce se lhe adicionarmos heavy metal. Não há limites, da música electrónica ao funk tailandês.
A editora Discos Extendes, paralela à Extended Records, convidou artistas a partilhar receitas e músicas, e lançou um livro para apimentar os cozinhados durante o confinamento. A vontade de casar a música e a cozinha já é antiga para Gonçalo Neto e João Frederico, a quem se juntaram Diogo Vasconcelos e Sebastião Pinto. Os quatro amigos são DJ e os responsáveis pelas editoras. Gonçalo Neto, ou Terzi, levou a paixão pela culinária ao limite e “saltou dos pratos para os pratos antes do tempo”, como contou, em Março, ao P3, após abrir o Restaurante Tabique, em Braga.
Em 2020, durante o primeiro período de confinamento, era difícil vender música, impossível agendar gigs, e a Discos Extendes, especializada na edição em vinil, foi forçada a reinventar-se. “Os nossos amigos e colegas DJ estavam em casa a fazer pão e bolos, dedicados à culinária, e pensámos que seria engraçado convidar artistas a partilhar os cozinhados”, conta Diogo Vasconcelos. “Toda a gente achou um piadão e disseram-nos que devíamos lançar um livro.”
De regresso a casa, em 2021, encontraram a oportunidade ideal para “ganhar fôlego” e trazer à vida o livro de receitas. Em menos de uma semana, a primeira edição, impressa em risografia, está “praticamente esgotada”. Os quatro DJ pensam, já, numa próxima edição. Para quem queira comprar o livro, vendido a 13 euros, será melhor apressar-se a reservá-lo, através da página de Facebook ou de Instagram da editora.
João Frederico e Diogo Vasconcelos são os designers do livro, dedicados a escolher uma fonte diferente para o título de cada receita, inspirada no artista ou na música que lhe corresponde. “Interessa-nos, tanto na música como no design, fazer algo mais fora da caixa, mais extravagante”, diz Diogo.
Lançar o livro, explica o DJ de 32 anos, foi um “misto entre diversão, boa disposição e disciplina”, nos tempos livres entre os trabalhos dos quatro. Diogo acaba de lançar o último disco, Ruff Trax, sobre o qual conversou com o Ípsilon, em Fevereiro. É formado em Arquitectura, fotógrafo, tem uma revista de música, a Pista, dá toques no design gráfico. E, quase se esquecia de o mencionar, está a fazer um doutoramento em Arte dos Media. “Com a pandemia, tive de me adaptar. Diversifico-me tanto quanto posso na área da música. Faço tudo para não ter de fazer arquitectura.”
Estudou para ser arquitecto convicto de que seguiria os passos do pai, mas os novos sons e influências que descobriu durante a vida académica trocaram-lhe os planos. Começou, há mais de uma década, a comandar as pistas de dança, e nunca mais parou. “Viver da música significa viver no limite. E nesta altura é quase impossível. Temos de arranjar forma de nos mantermos vivos.”