Ex-bastonário dos engenheiros desafia ANA a provar que Alcochete é mais caro que Montijo
“Dificilmente se pode compreender o abandono de uma solução baseada no Campo de Tiro de Alcochete em favor da solução Montijo”, afirmou Carlos Matias Ramos no Parlamento.
O ex-bastonário da Ordem dos Engenheiros Carlos Ramos desafiou esta terça-feira a ANA a provar que o novo aeroporto de Lisboa em Alcochete fica mais caro do que no Montijo e disse que a “reciclagem” da Base Aérea n.º 6 é “uma utopia”.
“Desafio a ANA a provar que a solução minimalista no Campo de Tiro de Alcochete é mais cara do que a do Montijo”, afirmou Carlos Matias Ramos, que foi ouvido na Comissão Parlamentar de Economia, Inovação, Obras Públicas e Habitação, a propósito da localização do novo aeroporto de Lisboa.
O ex-bastonário da Ordem dos Engenheiros, que é também especialista do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) desde 1979, defendeu que dizer que o Montijo sai mais barato porque se trata de uma “reciclagem” de uma base aérea “é uma fantasia de quem quer defender” aquela localização.
Carlos Matias Ramos explicou que, daquelas instalações, só se aproveitaria o espaço, uma vez que a pista teria de ser aumentada e alteada (aterrada, em linguagem corrente), num solo com quatro metros de lodo e sobrepondo-se a um aterro hidráulico que já lá foi feito, com baixa capacidade de carga e que não é adequado para a aviação civil.
“O engenheiro resolve tudo, mas é complexo e a complexidade custa dinheiro. [...] Facilmente se induz que não se trata de uma reciclagem, que a Base Aérea n.º 6 não é aproveitada para nada”, sublinhou.
Na sua óptica, a solução no Campo de Tiro de Alcochete permite a chamada solução minimalista, com uma pista, e com soluções de terra e ar análogas às que estavam previstas para o Montijo.
Carlos Matias Ramos referiu que a própria ANA partilhava da mesma posição até à sua privatização, no final de 2012, tendo inclusivamente citado um relatório da ANA, de 2007, em que a gestora de aeroportos considera “desaconselhável a localização Montijo para a implementação de um aeroporto complementar à Portela”, por várias razões, como as condicionantes físicas, a componente ambiental e os “volumosos investimentos” necessários.
Questionado sobre os custos da construção no Montijo, o engenheiro disse ter “todo o gosto em apresentá-los, desde que a ANA o faça”, referindo que a empresa nunca apresentou os seus estudos e projectos, mas fez apenas afirmações com base em “achismos”, “que foram corroboradas pelo Governo”.
“O nosso país tem o privilégio de contar com uma solução consensual, estudada exaustivamente, [...] para implementar um aeroporto internacional num terreno do Estado, [que] é o caso do novo aeroporto de Lisboa no Campo de Tiro de Alcochete”, sublinhou o engenheiro.
“Dificilmente se pode compreender o abandono de uma solução baseada no Campo de Tiro de Alcochete em favor da solução Montijo, muito limitativa na capacidade, operacionalidade, impactos ambientais, duração e longevidade”, concluiu.
O Governo anunciou, no início de Março, que vai avançar com a realização de um processo de avaliação ambiental estratégica a três soluções para reforço da capacidade aeroportuária em Lisboa, voltando a estar em cima da mesa a localização Alcochete, depois de a Autoridade Nacional da Aviação Civil (ANAC) ter indeferido o pedido para a construção no Montijo, por falta de parecer positivo de todos os municípios envolvidos.
Assim, estão agora a ser estudadas a actual solução dual, em que o Aeroporto Humberto Delgado terá o estatuto de aeroporto principal e o Aeroporto do Montijo o de complementar, uma solução dual alternativa, em que o Aeroporto do Montijo adquirirá, progressivamente, o estatuto de aeroporto principal e o Aeroporto Humberto Delgado o de complementar e a construção de um novo aeroporto internacional de Lisboa no Campo de Tiro de Alcochete.