Suzana Garcia quer transformar a Amadora numa “Singapura”

Em entrevista ao Expresso, a candidata rejeita o levantamento de cercas sanitárias ao Chega, quer replicar o exemplo de Isaltino Morais e “aumentar a fiscalização” do rendimento social de inserção.

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Imagem de Suzana Garcia no Maluco Beleza, o podcast de Rui Unas DR

A primeira entrevista que Suzana Garcia deu na qualidade de candidata do PSD à Câmara da Amadora não teve recuos. Não se afastou de declarações anteriores — e polémicas — sobre castração química de pedófilos, não rejeitou diálogos com nenhum partido, elogiou Isaltino Morais e ainda defendeu que é preciso fiscalizar os abusos ao rendimento social de inserção. Nada que fira “os valores essenciais do PSD”, como disse José Silvano, secretário-geral do partido, ao confirmar a sua candidatura.

Suzana Garcia, advogada e ex-comentadora televisiva no programa Você na TV!, da TVI, tem um projecto de ruptura para a Amadora, onde não vive (mora em Cascais), mas para onde admite mudar-se se ganhar as eleições: quer transformar aquele concelho suburbano de Lisboa numa espécie de “Singapura” ou num “melting pot como os EUA”. Para isso, não diz que não a qualquer tipo de coligação. Nem à direita, nem ao centro. 

“Eu faço isso com qualquer partido que me permita dar ao povo da Amadora o que ele merece. Não está no meu horizonte neste momento, mas se fosse importante para a Amadora eu até fazia coligação com o PS”, disse ao Expresso.

Também recusou a ideia de levantar cercas sanitárias ao Chega. “Isso são barragens artificiais colocadas à direita que não são colocadas à esquerda”, desabafou. E sobre a eventualidade de uma ‘geringonça’ à direita, questionou: “Têm medo?”

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Mais tarde, um comunicado enviado pela concelhia do PSD da Amadora esclareceu que o partido “dará início às conversações com vista ao estabelecimento de uma coligação eleitoral com o CDS, e com outros partidos políticos disponíveis para trilhar um caminho de mudança”, mas acrescentou que “naturalmente” e “seguindo orientações nacionais (...) está excluída a participação do partido Chega nesta coligação”.

Confrontada com temas polémicos, como o rendimento social de inserção ou a castração química de pedófilos, não perdeu a oportunidade para insistir nos seus pontos de vista. “Há pessoas que têm de optar entre o xarope e o comprimido e saem de casa todos os dias para ir trabalhar, enquanto outras, ao lado, têm um telemóvel de última gama e um Mercedes à porta e ficam a dormir até ao meio-dia”, disse. Embora tenha defendido a importância do rendimento social de inserção para colmatar “lacunas”, reconheceu que é preciso “aumentar a fiscalização” porque “há abusos”.

Se o tema dos subsídios não causa incómodo ao PSD, há outro em que a posição da candidata é contrária à que o partido defendeu no Parlamento: a castração química para pedófilos. Afirmando não conhecer profundamente o diploma do Chega, Suzana Garcia adiantou que suspeita ser diferente do que ela própria defende porque ouviu dizer que a intenção do Chega era que a castração química devia ser uma “imposição” a qualquer abusador sexual de menores — a jurista propõe esta “terapia medicamentosa inibidora da líbidopara reincidentes.

Ainda assim, Suzana Garcia teria permitido a discussão do assunto no Parlamento, “primeiro porque é o Tribunal Constitucional que define o que é constitucional ou não, e depois porque até a Dinamarca, o Canadá ou a Nova Zelândia discutiram este tema nos seus parlamentos”, escreveu o Expresso. “Vamos dizer que os dinamarqueses são selvagens?”

Elogios a Rio, Sá Carneiro e Isaltino

A candidata, que pode vir a ter também o apoio do CDS, confirmou o que já havia dito antes: recebeu convites de “todos os partidos da direita” e aceitou dar a cara pelo PSD apesar de nunca ter falado com o líder durante todo o processo de selecção. “Rui Rio passa por um momento trágico na democracia em que somos alvo de uma estrutura de comentariado político nacional avençada pelos partidos da esquerda, que não estão abertos a uma discussão honesta”, defendeu.

Suzana Garcia garantiu não ter sentido qualquer incómodo por ouvir José Silvano insinuar que o seu perfil é adequado para as autárquicas mas poderia não o ser para as legislativas. E, assumindo-se como “populista”, justificou: “Passei no crivo mais importante.”

​Admiradora de Francisco Sá Carneiro e de Isaltino Morais, o “autarca-modelo” que quer replicar, a advogada descreveu-se como um exemplo de “miscigenação” e disse-se contra a pena de morte e a prisão perpétua. “Acredito que todos somos resgatáveis até ao último suspiro.”

Sobre racismo, defendeu que tem de ser combatido através da educação e da igualdade de oportunidades. “O grande problema do racismo tem a ver com o facto de as pessoas não conhecerem o mundo”, defendeu. Nem por isso deixou de voltar a Mamadou Ba para o integrar num grupo de “oportunistas”, “hostis”, pessoas que se alimentam do “aumento das clivagens” e que não dizem “nada de bom” sobre Portugal.

* Notícia actualizada às 12h com o comunicado da concelhia do PSD da Amadora.

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