John le Carré pediu cidadania irlandesa e a culpa é do Brexit

“Esta é sem dúvida a maior catástrofe e a maior idiotice que a Grã-Bretanha perpetrou desde a invasão de Suez”, declara o escritor sobre a saída do país da União Europeia.

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O escritor morreu em Dezembro passado SIMON DAWSON/Reuters

John le Carré, escritor britânico conhecido pelos seus romances de espionagem, obteve cidadania irlandesa pouco antes de morrer, no final do ano passado, aos 89 anos. De acordo com o filho, Nicholas, a desilusão com o seu país natal e, em particular, com o Brexit, a saída do Reino Unido da União Europeia, levou-o a dar esse passo, explica num testemunho à BBC.

“Esta é sem dúvida a maior catástrofe e a maior idiotice que a Grã-Bretanha perpetrou desde a invasão de Suez”, foram as palavras do autor, citadas pela Reuters. “A ideia, para mim, de que podemos substituir o acesso ao maior mercado do mundo pelo simples acesso ao mercado americano é aterradora”, justificou.

Mesmo nos livros que escrevia, a imagem que le Carré — cujo nome de baptismo era David Cornwell — dava do seu país natal era negativa. Os seus romances mostravam uma Grã-Bretanha pós-imperial incompetente, impiedosa e, muitas vezes, corrupta. A insatisfação com a política externa dos Estados Unidos era também evidente e estava cada vez mais presente nos seus textos.

Num referendo de 2016, 51,9% dos eleitores britânicos escolheu deixar a União Europeia, vendo esta como uma oportunidade de escapar a um projecto franco-alemão estagnado, em comparação a um avanço notável dos Estados Unidos e da China. No entanto, os opositores crêem que o Brexit enfraquecerá o Ocidente, reduzirá a influência global da Grã-Bretanha, tornará as pessoas mais pobres e diminuirá o cosmopolitismo do país.