Menos 1,4 milhões de pessoas tratadas para a tuberculose em 2020 por causa da covid-19

Números da OMS apontam para que meio milhão de pessoas possa ter morrido simplesmente porque os doentes não tiveram acesso a um médico que diagnosticasse a doença.

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Argentina, radiografia de um paciente em tratamento por tuberculose Reuters/MAGALI DRUSCOVICH

Um dos efeitos da pandemia de covid-19 no mundo foi reduzir o acesso a cuidados de saúde para os doentes de tuberculose: a Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que pelo menos 1,4 milhões de pessoas tenham tido acesso a tratamento para a tuberculose em 2020 do que em 2019.

São ainda dados preliminares, coligidos pela OMS para 84 países, a tempo do Dia Mundial da Tuberculose, 24 de Março. Isto representa uma redução de 21% no acesso à prestação de cuidados aos doentes de tuberculose, uma doença infecciosa que precisa de tratamento longo e continuado com antibióticos e costuma coincidir com bolsas de pobreza.

O resultado disto, calcula a OMS, é que podem ter morrido mais 500 mil pessoas com tuberculose em 2020 do que em 2019 – simplesmente porque não conseguirem ter acesso a um médico que lhes diagnosticasse a doença.

Os países onde a redução do acesso aos cuidados de saúde para os doentes com tuberculose foi maior são a Indonésia (42%), África do Sul (41%), Filipinas (37%) e Índia (25%). Quanto à notificação de novos casos, há muitos países onde o gráfico da evolução da notificação de casos mergulha a fundo, quando o esperado seria uma progressão continuada, para cima. Mesmo em Portugal caiu de 1720 em 2019 para 1135, segundo os dados apresentados agora pela OMS.

“Os efeitos da covid-19 vão muito para além da morte e da doença causada pelo próprio coronavírus. A perturbação de serviços essenciais para as pessoas com tuberculose é um exemplo trágico das formas desproporcionadas como a pandemia está a afectar algumas das pessoas mais pobres do mundo”, considerou o director-geral da Organização Mundial de Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, citado no relatório divulgado nesta segunda-feira.

Também era esperado que o confinamento tivesse um efeito sobre a luta contra as outras doenças infecciosas - a OMS e outras organizações lançam alertas desde o início da pandemia. Agora começa a haver dados disponíveis sobre esses efeitos.

A dificuldade no acesso aos cuidados de saúde dos doentes de tuberculose, e a abismo entre o número de pessoas que realmente é infectada e aquele é que é detectado anualmente é um problema antigo. Mas agudizou-se muito com a pandemia de covid-19, diz a OMS.

Para tentar resolver este problema, a OMS está a promover novas orientações, que incluem a utilização de testes rápidos moleculares para detectar a doença, o uso de computadores para ajudar na análise das radiografias ao tórax e outras abordagens tecnológicas que tornam mais rápido e eficaz o diagnóstico e o acompanhamento tanto dos doentes de tuberculose como dos de HIV que têm esta doença também.

Mas é preciso mais: investimento dos Estados na saúde. “Os países têm de tornar a cobertura universal uma prioridade essencial para responder e recuperar da pandemia, e garantir o acesso aos serviços essenciais para o tratamento da tuberculose e outras doenças”, apelou o director-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus.

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