“Amigos do Convento” apela à mobilização cívica para valorizar o Convento de São Franscisco
O projecto convida a comunidade bracarense a trabalhar em conjunto com as entidades oficiais na valorização do Convento de São Francisco, que se encontra em reabilitação, de forma a edificar uma “nova centralidade cultural na cidade”.
Pedro Campos passa diversas vezes pelo estreito Caminho da Ordem, onde fica, por breves momentos, a olhar em silêncio para a Igreja de S. Francisco, em Braga. Foi lá que se casou e, habitado por uma intensa e feliz memória, que fez brotar em si uma vontade de agir e aprofundar a sua ligação com aquele lugar de “enorme valor histórico, patrimonial e cultural”, criou o “Amigos do Convento” – um projecto que quer mobilizar a sociedade civil de forma a edificar uma “nova centralidade cultural na cidade”, lê-se em comunicado.
Encontrou espaço para dar gás à sua ideia na reabilitação em curso do Convento de S. Francisco de Real, parte de um conjunto monástico composto pela Igreja de S. Francisco e pelo Mausoléu de S. Frutuoso, classificado como Monumento Nacional em 1944. O objectivo é ajudar na sua “salvaguarda, valorização, dinamização, divulgação e promoção”, mas Pedro Campos recusa qualquer tipo de protagonismo.
“O que nos importa é o resultado dos nossos esforços enquanto grupo e não se foi este ou aquele que fez alguma coisa ou se é esta ou aquela que lidera”, afirma ao PÚBLICO. Trata-se de uma aposta num espírito construtivo e colaborativo da sociedade, “uma iniciativa cívica de cariz cultural encetada por um grupo de cidadãos”, sempre em articulação com o município de Braga, a Universidade do Minho, a Direcção Regional de Cultura do Norte e a Paróquia Real – entidades que estão a tratar da reabilitação do Convento.
O plano de acção ainda não está definido, até porque os membros do “Amigos do Convento” ainda não conhecem, em detalhe, a candidatura vencedora, apesar de já se terem reunido e apresentado as intenções da iniciativa a algumas entidades envoltas no projecto. No entanto, sabem que a participação cívica que tanto almejam pode concentrar-se “numa programação cultural que envolva a comunidade no pós-reabilitação”, pois só assim “a intervenção parece fazer sentido”. “Sem a participação da comunidade, o Património Cultural não faz muito sentido. Reabilitar paredes não chega, há que dar vida a essas paredes”, explica.
Mas isso são etapas para um futuro que ainda se pode avizinhar distante – “uma maratona bastante morosa”, como afirma Pedro. Por agora, o objectivo é catalisar e apelar à adesão da comunidade ao projecto, através do recurso às redes sociais – onde o “Amigos do Convento” já conta com mais de 1500 seguidores – e à divulgação noticiosa. Pedro Campos não esconde que a actual situação pandémica está a impor limitações à iniciativa, já que não é possível reunir presencialmente com as pessoas, mas vê neste factor apenas um “contratempo”. “Particularmente em situações adversas, quem quer ir depressa vai sozinho, quem quer ir longe vai acompanhado”, conclui.
O “Amigos do Convento” já tem uma proposta preliminar de estatutos preparada para o caso de a iniciativa evoluir para um formato institucional, designadamente para a figura de Associação Cultural sem fins lucrativos. As obras para a conservação, valorização e promoção do Convento de S. Francisco pretendem repor a coesão espacial do conjunto monástico, com vista à sua visitação, e representam um investimento global de cerca de 2,5 milhões de euros.
Texto editado por Ana Fernandes