No outro dia fiz uma das maiores viagens das minhas últimas semanas: cruzei meia Lisboa a pé e entrei na livraria Palavra de Viajante. Já há algum tempo que não entrava num destes templos e, confesso, nestas temporadas de fome das viagens, senti-me como uma criança com falta de açúcar numa loja de doces: o mundo todo cercava-me em livros e mais livros e mais livros. Milhares de viajantes, com as suas aventuras e as suas rotas, as suas buscas e vivências, sucessos e fracassos, as suas memórias. Todo um passado vivido à espera de ser partilhado, de servir de inspiração; tantos mundos unidos dentro de uma casa só, a casa dos livros de Ana Coelho. Mas não foi aos “seus” livros que fui buscar uma frase que me tem viajado. Entre umas quantas conversas de viajantes – que já sabemos que quando um diz viagem, o outro diz viagem e meia –, Ana contava-me que ainda antes da declaração da pandemia que nos parou a todos tinha conseguido ir a um dos seus destinos de estimação, São Petersburgo. E, a dado passo, dizia-me: "Essa cidade ainda me alimentou ao longo do ano, fui vivendo muito à custa das recordações dessa viagem.”
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