Um acontecimento cinéfilo em plena terceira vaga da pandemia covid-19: o regresso a Francis Ford Coppola. Haverá razões para suspeitar que pode ter sido também um acontecimento criado pela pandemia, como efeito colateral das restrições e perdas que andam a constrangir o épanouissement do desejo. Que precisa de ser libertado. Foi assim que, subitamente, no final do Inverno passado, em França — país onde o impulso cinéfilo ainda deixa registo nos sismógrafos —, estando as salas fechadas, o que, para além da infelicidade social não é menos do que uma humilhação para a forma como os franceses gostam de olhar para si próprios (veja-se a cerimónia dos Césares de sábado passado...), e estando a chover no coração dos espectadores (idem), ainda assim o cinema teimou em encenar o seu espectáculo. Colocou Francis como tema de ensaios críticos e na capa de revistas. Não por causa de mais uma metamorfose de Apocalypse Now (1979), esse bicho que em quatro décadas se foi aproximando de nós com outra(s) pele(s). Não devido a uma reabilitação de Do Fundo de Coração/One From the Heart (1981), cintilante affair electrónico cuja incompreensão e clamoroso flop, à sua época, são parte integrante da mística de um objecto entretanto entronizado.
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