Portugal retoma segunda-feira vacinação com a AstraZeneca. Recusar a toma é “recusar proteger-se”
Vacinação de 120 mil pessoas foi atrasada por uma semana. Professores e funcionários do pré-escolar e primeiro ciclo começam a ser vacinados no fim-de-semana de 27 e 28 de Março. Quem recusar tomar a vacina da AstraZeneca estará a “recusar proteger-se”.
Três dias após a interrupção da utilização da vacina da AstraZeneca-Universidade de Oxford, as autoridades de saúde decidiram voltar a utilizar este fármaco em Portugal. O coordenador da task force (grupo de trabalho) responsável pelo plano nacional de vacinação, vice-almirante Henrique Gouveia e Melo, adiantou que a vacina anglo-sueca voltará a ser administrada a partir de segunda-feira e revelou que a interrupção implicou o adiamento, por uma semana, da inoculação de cerca de 120 mil pessoas.
Anunciada numa conferência de imprensa conjunta da task force, da Direcção-Geral da Saúde (DGS) e do Infarmed (Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde), a decisão foi tomada depois de a Agência Europeia de Medicamentos (EMA, na sigla em inglês) ter atestado esta quinta-feira a segurança e eficácia da vacina da AstraZeneca, cuja administração tinha sido suspensa em vários países europeus, Portugal incluído. Após a comunicação do regulador europeu, Portugal optou por incluir de novo esta vacina no seu plano nacional de vacinação, à semelhança de outros países, como França e Itália.
A EMA continua a considerar a vacina da AstraZeneca contra a covid-19 “segura e eficaz”. Mas na conferência de imprensa online não conseguiu descartar a possibilidade de que exista uma relação de causa-efeito entre os casos raros de formação de coágulos sanguíneos com diminuição de plaquetas notificados em vários países, que causaram a morte de nove pessoas e levaram mais de uma dezena de países a suspender a campanha de imunização com esta vacina. “A recomendação é para os profissionais de saúde estarem atentos a possíveis efeitos secundários”, assinalou Emer Cooke, directora da EMA, adiantando que vão ser feitos mais estudos, enquanto prossegue a vacinação.
Na conferência de imprensa conjunta realizada no Ministério da Saúde, o presidente do Infarmed, Rui Ivo, considerou que as conclusões do regulador europeu relativas à segurança e eficácia do medicamento foram muito claras. “Penso que as conclusões da EMA foram claras quanto aos dois aspectos principais. Primeiro, que os benefícios da vacina superam claramente qualquer risco de reacção adversa. Isso foi muito claro nas conclusões do comité. Também foi referido que a vacina não está associada ao aumento geral do risco de coágulos sanguíneos na sua administração. Essas conclusões são muito claras no relatório”, enfatizou Rui Ivo.
O que vai acontecer a partir de agora? A administração da AstraZeneca foi adiada, mas Henrique Gouveia e Melo garante que este atraso será recuperado rapidamente. “Relativamente ao número de pessoas que ficaram por vacinar, são perto de 120 mil pessoas em que adiámos a vacinação uma semana. Vamos recuperar muito rapidamente essa vacinação e continuar a vacinar outras pessoas além dessas 120 mil. Mais uma semana, ou semana e meia, temos o plano recuperado como se não tivéssemos feito pausa”, acredita o coordenador da task force.
Quanto aos docentes e não docentes do pré-escolar e primeiro ciclo, cuja vacinação estava inicialmente prevista para este fim-de-semana, esses começarão a ser inoculados uma semana mais tarde, nos dias 27 e 28 deste mês. “O número de vacinas que a AstraZeneca tinha previsto para o segundo trimestre era cerca de 4,4 milhões e foram reduzidas para cerca de 1,5 milhões de vacinas. É com isso que os planos já estão feitos, já estão adaptados para essas quantidades. Em princípio, para além de fazermos o arranque da vacinação com a AstraZeneca esta segunda-feira, os docentes serão vacinados no fim-de-semana seguinte”, afirmou Gouveia e Melo.
A vacinação dos professores não significa uma “ultrapassagem" de outros grupos prioritários, como os idosos a partir de 80 anos e os doentes de risco com 50 ou mais anos, assegurou a directora-geral da Saúde, Graça Freitas. “O que foi decidido é que vacinaríamos em paralelo duas linhagens: as pessoas com comorbilidades e, em simultâneo, os professores e os não docentes. As escolas estão a ser o sector que vai desconfinar primeiro e portanto, numa tentativa de protecção ainda maior da comunidade escolar, serão também vacinados professores, com a expectativa real de que vamos ter vacinas de outras marcas para continuar o esforço de vacinação dos grupos de risco”, explicou Graça Freitas.
Rui Ivo adiantou que vão estar disponíveis, a partir de sexta-feira, dois documentos sobre a vacina da AstraZeneca, um folheto informativo para os cidadãos e uma informação destinada aos profissionais de saúde. Mas nem o presidente do Infarmed nem a directora-geral da Saúde afastaram a hipótese de vir a ser alterada a definição dos grupos prioritários para a toma desta vacina. “Temos de esperar que os documentos sejam, de facto, disponibilizados na sua forma final, escrita”, disse Graça Freitas.
Pode recusar-se a vacina?
E se as pessoas recusarem a vacina da AstraZeneca? Num primeiro momento, a directora-geral da Saúde não respondeu directamente, optando por salientar a segurança e eficácia da vacina. “Quando decidimos pôr uma vacina a circular e a ser administrada, é porque nos dá garantias de que é segura, eficaz e tem qualidade. Se for oferecida uma vacina, seja qual for a marca, deve aceitá-la. O risco de ter doença, doença grave, internamento e indesejavelmente morte, é muito superior. Qualquer que seja a marca da vacina, quando as autoridades portuguesas põem uma vacina no mercado à disponibilidade dos cidadãos, é porque a vacina tem características de segurança, eficácia, qualidade, em que os seus benefícios superam os riscos. É isso que as pessoas têm que ter em mente: ao vacinarem-se, estão a proteger-se de uma doença potencialmente grave”, aconselhou.
Perante a insistência dos jornalistas, Graça Freitas clarificou um pouco melhor esta questão, dando a entender que quem recusar tomar a vacina da AstraZeneca, ou qualquer outra, está a recusar a imunização. “A recusa de uma vacina é recusar proteger-se e recusar proteger-se contra uma doença grave. A alternativa [para quem recusa tomar uma qualquer vacina de qualquer marca] é essas pessoas continuarem vulneráveis e susceptíveis de contraírem uma doença que pode ser grave e que pode ser letal”, afirmou a directora-geral da Saúde.