A Mãe e o Mar: RTP repesca as memórias das mulheres-arrais de Vila Chã

São imagens de uma tradição única e quase perdida. Gonçalo Tocha resgatou-a num documentário que a RTP mostra esta quinta-feira, sete anos depois da estreia em sala e de várias distinções colhidas pelo caminho.

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Foi em 2014 que chegou aos cinemas a história representada por Glória, a única “pescadeira” ainda em serviço na praia de Vila Chã, como herdeira de gerações de mulheres-arrais que enfrentaram o mar e desafiaram a preponderância masculina na profissão, quando se fizeram profissionalmente à faina. 

No ano antes, já o festival Curtas Vila do Conde tinha recebido A Mãe e o Mar para a primeira das exibições. Foi dali que partiu a “encomenda” deste trabalho a Gonçalo Tocha, que foi à beira-mar, nos arredores da cidade, procurar o rasto dessa tradição que é tida como caso único no mundo e que se está a desvanecer. Através de conversas com a comunidade piscatória, repescou os fragmentos desta história de extinção. 

Não são só as “pescadeiras” que estão a desaparecer do horizonte de Vila Chã: ao longo dos seus 93 minutos, o documentário mostra também a diminuição da frota de barcos de pesca, na altura reduzido a nove – “cabem todos no mesmo plano”, comenta o realizador em voz-off – de entre as dezenas que chegaram a fazer-se ao mar. 

A encomenda, feita pelo programa Estaleiro do festival vila-condense e produzido com a participação de um grupo de estudantes de cinema do Porto, foi feita a Gonçalo Tocha porque o realizador já antes tinha mergulhado em cenários relacionados com o mar, por um lado, e com uma arqueologia da memória, por outro. Foi assim quando apresentou Balaou (2007), filmado a bordo de um barco à vela no Atlântico, com um casal francês (viagem para, nas suas palavras, “aceitar o esquecimento das coisas”), e quando assinou É Na Terra Não É na Lua (2011), um premiado documentário-ensaio recheado de histórias dos habitantes da ilha açoriana do Corvo. 

De Vila do Conde, A Mãe e o Mar seguiu para muitos outros certames. Conquistou no DocLisboa o Prémio Liscont para melhor longa-metragem na competição portuguesa. Lá fora, estreou-se no Festival Internacional de Cinema de Roma, teve honras de abertura da Quinzena de Documentários do MoMa - Museu de Arte Moderna de Nova Iorque e foi exibido por países como Argentina, Dinamarca, Canadá e Holanda. 

Além de documentarista, Gonçalo Tocha tem no currículo trabalhos como videasta para companhias de teatro como A Truta ou o Grupo Teatro de Letras e a direcção de videoclipes para bandas como Deolinda ou Bandarra. A música é a outra arte que mais o ocupa. Além de ter composto para teatro e cinema, faz vezes de DJ, esteve na origem dos extintos Lupanar, é a cara-metade de Dídio Pestana (ele próprio, cineasta) no duo de baile retrofuturista Tocha Pestana e também o homem por detrás do alter ego romântico Gonçalo Gonçalves.

O documentário está programado para quinta-feira, 18 de Março, na RTP2, às 22h49.

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