Presidente da CGD alerta para “tsunami” de malparado com fim das moratórias

Paulo Macedo diz que sectores como o do turismo necessitam de um apoio adicional para conseguirem fazer face a encargos.

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LUSA/MANUEL DE ALMEIDA

O presidente executivo da Caixa Geral de Depósitos, Paulo Macedo, alertou esta segunda-feira para a possibilidade de um “tsunami” de crédito malparado com o fim das moratórias bancárias, caso não haja outros apoios aos sectores mais afectados pela crise.

O gestor, que falou no webinar Investimento, Digitalização e Financiamento Verde: O Caso Português”, organizado pelo Banco de Portugal (BdP) e pelo Banco Europeu de Investimento (BEI), alertou que, depois de anos a limpar os balanços, poderá haver “novamente um aumento dos NPL [non performing loans, crédito malparado]”. 

“Em Portugal, com o fim das moratórias temos de nos assegurar que as empresas certas são apoiadas para não ter um ‘tsunami’ de NPL”, referiu.

Paulo Macedo referia-se a sectores como o turismo, que estão praticamente paralisados desde o início da pandemia e que diz necessitarem de um apoio adicional para conseguirem fazer face a estes encargos. 

Ainda assim, o presidente da CGD destacou que as instituições bancárias desta vez “foram parte da solução, ao contrário do que aconteceu na crise anterior”, realçando que estavam preparados com capital e liquidez para fazer face à crise.

Uma das questões abordadas na conferência foi a facilidade de acesso ao financiamento, que muitas vezes atrasa o investimento em áreas em que a União Europeia (UE) quer apostar, como a digitalização e economia verde. 

O governador do BdP, Mário Centeno, deu conta da evolução dos gastos em Investigação & Desenvolvimento (I&D) em Portugal têm vindo a crescer, ainda que tenham estagnado durante a crise anterior. Neste momento, no entanto, continuam abaixo da média da zona euro, de 2,2%, pesando 1,5% no Produto Interno Bruto (PIB) em 2018.

O governador destacou ainda que o peso do investimento na digitalização no PIB em Portugal “tem crescido continuamente”, mas ainda está atrás da média europeia, devido a um “menor investimento em software de computadores e bases de dados”.

“O verdadeiro desafio é a necessidade de alocar os fundos correctamente, preservando a concorrência entre as empresas”, salientou, indicando que “as amplas prioridades estabelecidas a nível europeu incluem também o reforço dos gastos sociais como forma de mitigar a desigualdade”.

O BEI apresentou ainda os resultados das mais recentes edições do seu relatório anual sobre o investimento e do inquérito anual do banco sobre o investimento na Europa e em Portugal, tendo concluído que “quase metade (47%) das empresas em Portugal prevêem investir menos devido à covid-19”, lê-se numa nota publicada pelo BdP.

“Além disso, cerca de um terço abandonaram ou adiaram os planos de investimento devido à pandemia, menos do que a média da UE (35%), e quase um quarto (24%) das empresas esperam manter pelo menos alguns dos seus planos de investimento, mas com uma escala ou âmbito reduzidos, acima da média da UE (18%)”, segundo o mesmo comunicado.

Por outro lado, “cerca de metade de todas as empresas inovaram e desenvolveram ou introduziram novos produtos, processos ou serviços como parte das suas actividades de investimento, acima da média da UE (43%)” e 76% “afirmam que as alterações climáticas têm actualmente impacto nas suas actividades, muito acima da média da UE (58%)”, segundo o mesmo estudo.