Eram quase 14h em Espanha e ele continuava sem atender o telefone. Ao meu lado, no sofá, ela tremia de forma descontrolada. Na televisão passavam as imagens da Estação de Atocha e o pânico começava a tomar conta de ambas. Quando não aguentei mais, fugi para a rua. Mas a sensação de aperto no peito não se alterou e respirar tornou-se quase impossível. Ele não atendia o telefone porquê? E, depois, porque a nossa cabeça é quase sempre a nossa pior inimiga, o filme começou a compor-se. Na TVE, a jornalista Mavi Donate (há nomes que a gente nunca esquece, mesmo 17 anos depois) falava em directo e, nas suas costas, o cenário era de puro terror. Havia fumo, viam-se destroços e suspeitava-se de que existiriam centenas de mortes e milhares de feridos. E eu já o via lá, morto ou gravemente ferido por uma das dez impiedosas bombas que em quatro minutos mudaram a vida de Espanha e dos espanhóis para sempre.
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