Raquel Duarte sobre desconfinamento: “O voltar atrás deve ser mais demorado do que levantar as restrições”

Antiga secretária de Estado da Saúde desenhou um plano de desconfinamento que serviu de base ao plano do Governo anunciado na quinta-feira.

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Nelson Garrido/Arquivo

Raquel Duarte foi uma das especialistas que, na reunião entre políticos e peritos no Infarmed, apresentou um plano de desconfinamento por etapas. O plano da pneumologista, que envolveu também o matemático Óscar Felgueiras, serviu de base à estratégia de desconfinamento “a conta-gotas” apresentada na quinta-feira por António Costa.

A ex-secretária de Estado da Saúde, cargo que exerceu entre 2018 e 2019, diz ao PÚBLICO que será importante garantir o cumprimento das medidas nas escolas, considerando que o plano apresentado pelo primeiro-ministro para a reabertura faseada da sociedade teve em linha de conta as sugestões dos especialistas. 

O plano de desconfinamento cumpriu as suas expectativas?
Teve em linha de conta os diferentes peritos, mas também o que compete ao Governo para gerir o país — a audição dos partidos e os seus parceiros sociais e económicos. O que temos é um plano que complementa o nosso, mas que mantém o racional de faseamento, de precaução, passos pequenos mas seguros, no sentido de garantir que as medidas são levantadas com o controlo de situação, para não chegarmos à situação anterior.

O Governo decidiu reabrir o 1.º ciclo já esta segunda-feira, ao mesmo tempo que as creches, ao contrário do que a sua equipa tinha recomendado. O que a preocupa neste cenário?
Cada medida implementada levanta o risco de maior mobilidade e interacção. O que é preciso garantir é aquilo que é proposto de uma forma geral para qualquer actividade laboral: cumprimento das orientações, desfasamento de horários, garantia da distância e uso de máscara.

Dentro das escolas, as condições são seguras, mas fora da escola — são crianças habitualmente transportadas pelos pais — é preciso garantir que as condições são mantidas. A responsabilidade individual e colectiva vai ser muito importante para que se consiga, na avaliação dos 15 dias, garantir que o risco se mantém baixo e podemos passar para o patamar seguinte.

Defende que uma regressão nas medidas deve ser adoptada a nível regional?
O que propomos é que o “voltar atrás” seja mais demorado do que levantar as medidas restritivas. Se a cada 15 dias tivermos um patamar de risco melhor ou mantido, podemos passar para o patamar imediatamente abaixo. Se houver um agravamento, [defendemos] que não seja imediatamente associado a um agravamento das medidas. O que é importante é que a unidade de saúde pública consiga fazer o diagnóstico e, muitas vezes, consegue controlar a situação — podemos estar perante um surto. Mas, passado 15 dias, se continuar a manter-se o agravamento, aí sim é preciso existir um agravamento das medidas.

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