Como era bom quando éramos livres
É neste momento que temos de tentar ser mais racionais do que emocionais. Despir-nos daquilo que é o instinto que todos temos dentro de nós e perguntar-nos “Se os problemas do sistema nunca foram resolvidos com mais dinheiro, porque haveremos de continuar a seguir esse caminho?”.
Nos tempos que correm, com os números de infetados e mortes covid numa descida constante, a única coisa que passa pela cabeça dos portugueses é a insistente pergunta “Quando poderei voltar a ter uma vida normal?”.
O ser humano tem aversão à instabilidade – é como um instinto de sobrevivência embutido no nosso código genético que nos impulsiona a preferir decisões seguras ou o status quo a uma opção nova que nos traga alguma incerteza.
O que alguns não se aperceberam até agora é que a necessidade dos dias de hoje por um regresso à normalidade, certamente com riscos, é de facto um grito de socorro pela falta de liberdade em que nos encontramos. Não discutindo se esta falta de liberdade é justificável ou não, aquilo que verdadeiramente todos os portugueses querem perguntar é “Quando poderei ser livre de novo?”.
A liberdade de fazer aquela corrida ou passeio, mesmo que não a façamos. A liberdade de fazer aquela viagem ao estrangeiro, mesmo que a cancelássemos. A liberdade de ir jantar fora, mesmo que ficasse para outro dia. A liberdade de ir ver o jogo do nosso clube ou de um nosso familiar, mesmo que depois só o víssemos na televisão ou online.
Mas o que acontece quando nos esquecemos de que existia uma realidade diferente em que éramos mais livres? Se por milagre nos esquecêssemos agora de como era a vida pré-covid e o estado de emergência passasse a ser o novo normal? Arrisco-me a dizer que nessa situação, apenas a perspetiva de se vir a ser mais livre do que se é atualmente soaria a um risco incomportável por não se saber como esse “excesso” de liberdade influenciaria a “normalidade” a que nos habituámos.
É neste preciso cenário onde Portugal se encontra! Os portugueses esqueceram-se de como era em 1980 pagar apenas 11.6% do PIB em impostos (Pordata, Portugal, Contas Públicas, Receitas do Estado). Os portugueses foram levados a crer ao longo dos últimos 40 anos que para ter um Estado que providencia saúde, educação, justiça, segurança, entre outros, era necessário pagar muito e que todas as falhas seriam corrigidas pagando ainda mais – e isso levou-nos ao estado atual em que pagamos 21.6% do PIB em impostos. Apenas a perspetiva de alguém defender uma diminuição de impostos leva a uma aversão, natural, de que a qualidade do serviço irá piorar. E por outro lado, ninguém se questiona de quanto irão aumentar impostos, a cada anúncio de mais investimento público e de aumento da despesa pública.
É neste momento que temos de pensar bem quando um governante acena com uma tal de bazuca ou vitamina europeia. O sítio de onde vêm esses milhões não é de um saco sem fundo. Uns são mesmo empréstimos a Portugal, o que pressupõe devolução no futuro; outros existem porque a Europa se está a endividar. Entre um e outro há uma frase conhecida que encaixa que nem uma luva - nunca há almoços grátis.
É neste momento que temos de fazer uma pausa. Tentar ser mais racionais do que emocionais. Despir-nos daquilo que é o instinto que todos temos dentro de nós e perguntar-nos “Se os problemas do sistema nunca foram resolvidos com mais dinheiro, porque haveremos de continuar a seguir esse caminho?”.
Existe outro caminho que é o da eficácia e da eficiência – um caminho onde cada cêntimo do Estado é utilizado de forma correta nas tarefas que verdadeiramente o Estado devia providenciar. Um caminho onde se pensa sempre em devolver ao contribuinte impostos que pagou. E os únicos a defender esse novo caminho são os Liberais!
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico